Ex-espião acusa príncipe saudita e pede ajuda dos EUA para libertar os filhos

Saad al-Jabri alega que a detenção érepresália do príncipe Mohammed bin Salman pela atuação do pai no governo de Mohammed bin Nayef, deposto em 2017

Um ex-espião saudita recorreu ao governo dos Estados Unidos na tentativa de libertar um filho e uma filha presos na Arábia Saudita. Saad al-Jabri, ex-agente dos serviço de inteligência sauditas, alega que a detenção de ambos é uma represália do príncipe Mohammed bin Salman pela atuação do pai no governo do antigo ocupante do trono, Mohammed bin Nayef, deposto em 2017. As informações são da agência Reuters.

O filho e a filha do ex-espião estão presos sob acusações de lavagem de dinheiro e tentativa de deixar ilegalmente o país, o que ambos negam. O pai afirma que eles foram detidos para forçá-lo a retornar à Arábia Saudita, onde diz que seria morto. Agora, aposta na diplomacia liderada por Washington para libertar Omar al-Jabri, de 21 anos, e Sarah al-Jabri, de 20 anos, uma vez que EUA e Arábia Saudita são aliados.

Omar al-Jabri e Sarah al-Jabri estariam presos na Arábia Saudita porque o pai é um ex-agente da inteligência saudita (Foto: reprodução/Twitter)

Al-Jabri, atualmente vivendo no Canadá, concedeu recentemente a primeira entrevista desde que fugiu de seu país. Ele falou ao programa 60 Minutos, da emissora norte-americana CBS, e lá pediu ajuda a Washington. “Eu tenho que falar. Estou apelando ao povo americano e à administração americana para que me ajudem a libertar essas crianças e restaurar suas vidas”, disse.

Na entrevista, al-Jabri disse ainda que gravou um vídeo no qual revela mais informações sobre a realeza saudita, que seriam divulgadas caso ele fosse morto. “Espero ser morto um dia, porque esse cara não vai descansar até que me veja morto”, afirmou ele, alegando que as informações que acumulou no período como agente de inteligência preocupam o príncipe herdeiro. “Ele tem medo das minhas informações”, diz o ex-espião, mais uma vez referindo-se ao soberano.

Antes de exibir a conversa, a CBS afirmou que o simples fato de al-Jabri conceder uma entrevista mostra a relevância da questão. “Uma fonte da inteligência dos EUA nos disse que Saad al-Jabri nunca apareceria para esta entrevista. Ele viveu muito tempo em uma profissão silenciosa. O fato de ele ter aparecido é uma medida de seu desespero”, diz a emissora.

Esquadrão da morte

Através de sua conta no Twitter, o 60 Minutos afrmou que a Embaixada saudita em Washington chamou as acusações de al-Jabri de “fabricadas”, classificando-o como um “desacreditado ex-funcionário do governo com uma longa história de fabricação”.

Na mesma rede social, uma campanha foi criada pedindo a libertação dos jovens. Nela, uma imagem apresenta uma declaração forte do ex-espião: “Estou aqui para acionar o alarme sobre o psicopata, assassino, no Oriente Médio, com infinitos recursos, que representa uma ameaça para seu povo, para os norte-americanos e para o planeta”.

Em 2019, al-Jabri ingressou com uma ação judicial nos Estados Unidos, na qual alega que o governo saudita enviou um “esquadrão da morte” para matá-lo. Michael Kellogg, advogado do príncipe herdeiro nos Estados Unidos, classificou as alegações do ex-espião como “recheadas de drama”.

O governo saudita, por sua vez, acusa o ex-agente de inteligência de embolsar bilhões de dólares no período em que trabalhou no Ministério do Interior, ainda sob o governo de bin Nayef. Ao negar as acusações, al-Jabri afirmou que é rico porque trabalhou para a monarquia saudita durante duas décadas, período na qual os governantes foram “muito generosos”, respeitando a tradição de “cuidar das pessoas ao seu redor”.

Por que isso importa?

As acusações de al-Jabri contra Mohammed bin Salman remetem a outro caso envolvendo o príncipe, acusado de envolvimento indireto com o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, saudita de nascimento, porém residente nos Estados Unidos à época da morte.

Crítico do príncipe herdeiro, Khashoggi foi visto pela última vez no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro de 2018. O jornalista teria ido ao local para retirar documentos e ali foi assassinado, mas seus restos mortais nunca foram encontrados.

O reino sentenciou oito pessoas por envolvimento no assassinato. Em 2019, Agnes Callamard, ex-especialista da ONU em assassinatos sumários e atual chefe da Anistia Internacional, apontou “evidências confiáveis” de que altos funcionários sauditas foram os responsáveis pela morte. Riad realizou uma “reforma completa” nas agências de inteligência após o caso.

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