Mudança de foco dos EUA teria forçado contato de Arábia Saudita com Irã

Ceticismo de Biden em relação ao governo em Riad estaria por trás de súbita aproximação do reino com os xiitas

A repentina aproximação do príncipe saudita Mohammed bin Salman com o Irã, nesta semana, sugere que o governo de Riad levou a sério a mudança de foco dos EUA no Oriente Médio, apontou a revista “Foreign Policy”. A Arábia Saudita inaugurou uma linha direta com o Teerã quatro anos depois de alegar que o discurso com o país era “impossível”.

Os comentários positivos do príncipe herdeiro e a saudação iraniana, registrada pela Reuters, dão indícios de que MBS está atento às supostas conversas secretas entre o Irã e seus vizinhos árabes sobre a guerra no Iêmen.

O que pode estar por trás da repentina aproximação da Arábia Saudita com o Irã
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, em encontro com a OMT (Organização Mundial do Turismo), Riad, fevereiro de 2019 (Foto: Divulgação/WTO)

Riad e Teerã estão imersos no conflito, iniciado em 2015, e que já gerou a pior crise humanitária do mundo hoje. Sauditas e iranianos estão em lados opostos do front, com o governo iemenita e os rebeldes houthis, respectivamente.

Conforme relatórios aos quais o diário britânico “Financial Times” teve acesso, é também de interesse do premiê iraquiano Mustafa al-Kadhimi resolver as tensões dessa guerra por procuração entre os dois países.

Desde que tomou posse, em janeiro, Joe Biden deixou de assegurar o apoio incondicional aos seus parceiros na região. Esse fator pode encabeçar a lista de motivos para essa aproximação no Oriente Médio. Sem Washington, as potências regionais podem ter sentido a necessidade de explorar seus canais próprios de diplomacia, dizem analistas.

Otimismo

Além da Arábia Saudita, o movimento já ocorre entre o Irã e os Emirados Árabes Unidos. Em um documento acessado pelo site britânico Amwaj.media, também há relatos de cinco reuniões de Teerã com autoridades da Jordânia e Egito desde o começo do ano. As conversas também já envolveram, além do Iêmen, discussões sobre a Síria e o Líbano.

Há otimismo, já que os diálogos parecem terem sido liderados pelas próprias potências regionais. “Isso não significa que os EUA não tenham contribuído para o processo”, disse Trita Parsi, vice-presidente do think tank Instituto Quincy, baseado em Washington.

“É exatamente o oposto que catalisou as negociações: sinais cada vez mais claros de que os EUA estão se desligando militarmente do Oriente Médio”. A visão cética de Biden sobre a região belicosa sugere que o novo papel dos EUA é apenas de descobrir “maneiras de reduzir as complicações” ali.

O Irã xiita e a Arábia Saudita sunita romperam os laços diplomáticos em 2016.

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