Macron promete desrespeitar ultimato da junta e manter embaixador francês no Níger

Militares ordenaram que o embaixador Sylvian Itte deixe o país, conforme o governo francês apoia o líder democrático deposto

Nesta segunda-feira (28), o presidente francês Emmanuel Macron comunicou que o embaixador da França no Níger, Sylvian Itte, permanecerá no país palco de um golpe de Estado em julho. Isso ocorre apesar de a junta militar que derrubou o líder democrático ter exigido que o enviado deixasse Niamei dentro de um prazo de 48 horas, estipulado na sexta-feira (25) passada. As informações são da rede France24.

“A França e seus diplomatas enfrentaram situações particularmente difíceis em alguns países nos últimos meses, desde o Sudão, onde a França tem sido exemplar, até o Níger, neste exato momento, e eu aplaudo seu colega e seus colegas que estão ouvindo de seus postos”, disse ele.

Macron também reafirmou o apoio de Paris ao presidente deposto Mohammed Bazoum, detido com sua família desde a queda do governo em 26 de julho. A liderança da junta foi solicitada por países ocidentais e pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), principal bloco econômico da região, a reintegrar o presidente deposto, mas se nega a fazê-lo.

O presidente francês, Emmanuel Macron, durante pronunciamento no Palácio Elysée, em Paris, França. Janeiro de 2018 (Foto: Flickr/Jacques Paquier)

O Ministério das Relações Exteriores do Níger estabeleceu um prazo para a saída de Itte do país porque o embaixador recusou-se a se reunir com os novos líderes nigerinos. Niamei também contesta ações do governo francês que foram percebidas como prejudiciais aos interesses da nação africana.

Em resposta, Macron reafirmou que Bazoum havia sido eleito democraticamente e demonstrou coragem ao se recusar a renunciar.

“Penso que a nossa política é a certa. Baseia-se na coragem do presidente Bazoum e nos compromissos do nosso embaixador no terreno, que permanece apesar de toda a pressão, apesar de todas as declarações feitas pelas autoridades ilegítimas”, disse Macron.: “Nossa política é clara: não reconhecemos os golpistas”, acrescentou.

O presidente francês também observou que uma “epidemia de golpes de Estado no Sahel” está em curso e lamentou a falta de ação enérgica por parte de muitos países para conter essas reviravoltas antidemocráticas.

Após o general Abdourahamane Tiani assumir o poder no Níger, mais de 1.,5 mil soldados franceses foram obrigados a deixar o território. Esses militares anteriormente participavam do esforço internacional de combate ao terrorismo na região do Sahel. No domingo (27), houve uma manifestação popular próxima à base onde esses soldados estavam estacionados.

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia de sua guarda presidencial no palácio da presidência. O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para o Níger.

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