Abandonado há 47 anos, bairro cipriota de Varosha será parcialmente reaberto

Região era atração turística até 1974, quando a invasão turca levou à fuga dos moradores e a transformou em uma "zona fantasma"

Varosha, no Chipre, já foi um deslumbrante destino turístico. Hoje, é uma “zona fantasma”. Abandonado desde 1974, o bairro no sul da capital Famagusta está desabitado. Sobram edifícios abandonados, e os antigos proprietários simplesmente não podem acessar seus imóveis. Um projeto anunciado nesta terça-feira (20) pode mudar esse cenário, mas não sem aumentar a tensão em um país dividido entre gregos e turcos.

O líder cipriota-turco Ersin Tatar, presidente da autodeclarada República Turca do Chipre do Norte, aproveitou a visita do presidente turco Recep Erdogan para anunciar que vai desmilitarizar uma área correspondente a 3,5% de Varosha, segundo o jornal Cyprus Mail. Assim, proprietários poderão retornar a seus imóveis, numa área bloqueada e abandonada onde apenas a visitação é permitida atualmente.

Bairro de Varosha, em Famagusta, no Chipre, está abandonado desde 1974 (Foto: Wikimedia Commons)

A decisão unilateral, contestada pelos cipriotas-gregos, desagradou a União Europeia (UE), da qual o Chipre é membro. Josep Borrell, alto representante do bloco, atribuiu aos turcos a responsabilidade pela situação em Varosha e alertou que a reabertura pode intensificar a crise entre os dois grupos que dividem o país.

Para a ONU e a UE, o Chipre é um país bicomunitário e birregional, mas com governo único. Um conceito ignorado por Erdogan, que vê na reabertura de Varosha a chance de fortalecer a ideia de dois Estados independentes. “O novo processo de negociação só pode ser feito entre os dois Estados. Temos razão e vamos defender nosso direito até o fim”, disse ele.

Tatar chama para si a responsabilidade. “Eu sou o homem que convenceu Erdogan de que, esgotadas todas as oportunidades da federação, deveríamos buscar essa solução de dois Estados ”, disse ele ao jornal britânico Guardian, minimizando a recusa da UE em discutir um acordo nesse sentido.

País dividido

Em 1974, diante do golpe de Estado apoiado pela Grécia que derrubou o presidente Makarios III, a Turquia invadiu o Chipre sob o pretexto de instalar ali uma “missão de paz”. O país, então acabou dividido pela chamada “linha verde”, que corta a capital Nicósia ao meio. Desde então, o Chipre é ocupado por dois grandes grupos étnicos: os cipriotas-gregos e os cipriotas-turcos

A divisão do país nunca foi bem aceita pelos gregos, sobretudo após os turcos declararem a República Turca do Chipre do Norte. O território, porém, não é reconhecido internacionalmente, embora tenha iniciado em 2014 um processo nesse sentido junto à ONU (Organização das Nações Unidas).

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