As forças de segurança da Alemanha prenderam na quarta-feira (17) dois indivíduos com dupla nacionalidade, russo-germânica, acusados de planejar atos de sabotagem contra instalações industriais e militares do país, tendo como alvo inclusive uma base norte-americana. As informações são do jornal Financial Times.
Identificados como Dieter S. e Alexander J., os dois homens teriam ligação com o GRU, o serviço de inteligência militar da Rússia. A missão deles estaria conectada ao projeto de Moscou para minar o apoio dos países europeus à Ucrânia na guerra.
“As nossas autoridades de segurança impediram possíveis ataques explosivos que pretendiam atingir e minar a nossa assistência militar à Ucrânia. É um caso particularmente grave de alegada atividade de espionagem do regime criminoso de Putin”, afirmou a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser.
Um dos homens, Dieter S. já estava no radar das autoridades alemãs. Ele chegou a pegar em armas no leste da Ucrânia entre 2014 e 2016, apoiando as tropas de Moscou no conflito separatista que colocou as regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk sob controle russo.
Um dos alvos da dupla nos ataques em solo alemão era a base militar de Grafenwoehr, no sul da Alemanha, onde tropas norte-americanas têm oferecido treinamento militar a soldados ucranianos que combatem na guerra contra a Rússia.
O episódio ocorre no momento em que Berlim assume um papel de liderança no apoio a Kiev. Com a ajuda militar norte-americana suspensa devido à disputa política entre republicanos e democratas nos EUA, a Alemanha convocou seus aliados nesta semana para que forneçam aos ucranianos toda munição de defesa antiaérea possível.
A fim de minar o apoio ocidental, a Alemanha surge como alvo preferencial dos serviços de inteligência russos. Episódios de espionagem, ataques cibernéticos e ações de sabotagem têm se repetido no país, que teme ver sua infraestrutura crítica atingida. Assim, tornaram-se comuns os casos de espiões presos pelas autoridades alemãs sob a acusação de servirem a Moscou.
Em junho de 2021, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.
A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang disse que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, afirmou.
Espionagem russa
Em setembro de 2022, Berlim anunciou que dois funcionários de seu Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia. Os nomes não foram revelados, apenas que ambos eram responsáveis por questões energéticas sensíveis e teriam ajudado a alimentar o debate pró-Moscou, espalhando críticas ao chanceler Olaf Scholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.
No início de outubro daquele ano, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.
Naquele mesmo mês, o Ministério do Interior da Alemanha anunciou a demissão de Arne Schoenbohm, que até então chefiava o Departamento Federal de Segurança da Informação. A proximidade com a Rússia levou à decisão.
Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, em 2022 surgiu a denúncia de que uma empresa participante foi fundada por um agente russo, situação que teria sido ignorada pelo chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação.