Aliados de Navalny, ativistas e até Joe Biden acusam Vladimir Putin de assassinato

Recusa em entregar o corpo do rival de Putin é citada como indício de que o Kremlin tenta esconder a verdadeira causa da morte

A morte de Alexei Navalny vem sendo tratada como assassinato por seus aliados, por ativistas dos direitos humanos e até pelo governo norte-americano. E a culpa é atribuída diretamente ao presidente russo Vladimir Putin, de quem o político era o maior rival doméstico.

“Não se engane: Putin é responsável pela morte de Navalny”, disse o presidente Joe Biden na última sexta-feira (16) na Casa Branca, segundo relato do jornal The New York Times. “O que aconteceu com Navalny é ainda mais uma prova da brutalidade de Putin. Ninguém deve ser enganado.”

Navalny morreu na sexta no presídio IK-3, no ártico russo, onde cumpria pena de mais de 30 anos de prisão por acusações que sempre alegou serem politicamente motivadas. A informação foi divulgada pelo Serviço Penitenciário Federal (FSIN, na sigla em russo).

De acordo com a agência Reuters, o rival de Putin “se sentiu mal” e desmaiou ao caminhar no pátio da prisão. Uma ambulância chegou a ser chamada e “foram realizadas todas as medidas de reanimação necessárias, que não deram resultado positivo.” Então, ainda de acordo com o órgão prisional, “os médicos da ambulância constataram a morte do condenado.”

Joe Biden, presidente dos EUA (Foto: Gage Skidmore/WikiCommons)

O grupo OVD-Info, que monitora a repressão na Rússia, publicou um editorial igualmente acusando Putin. “Isto não é morte. Isso é assassinato”, diz o texto originalmente em russo, traduzido com o auxílio de ferramentas online.

“Navalny morreu em consequência de um homicídio. Um homicídio planejado, um homicídio executado metodicamente, um homicídio do qual o Estado russo foi culpado”, afirma o OVD-Info. “E isso não é apenas assassinato. Isto é um assassinato político.”

A entidade lembrou que o ativista já havia sido envenenado antes, em 2020, mas conseguiu se recuperar “milagrosamente” graças ao tratamento que recebeu em Berlim, na Alemanha. No retorno a Moscou, em 2021, foi preso e nunca mais ganhou a liberdade.

A porta-voz de Navalny, Kira Yarmish, deu declaração semelhante, usando para isso a rede social X, antigo Twitter. “Alexei Navalny foi assassinado. Sua morte ocorreu no dia 16 de fevereiro, às 14h17, horário local, segundo mensagem oficial à mãe de Alexei”, diz ela no post. “Exigimos que o corpo de Alexei Navalny seja entregue imediatamente à sua família.”

Recuperar, o corpo, por sinal, é o desafio atual da família. Yarmish afirmou que a mãe de Navalny e um advogado foram impedidos de acessar o necrotério e que o corpo está sendo mantido pelas autoridades até que a causa da morte seja apurada.

O jornalista investigativo búlgaro Christo Grozev, que também alegou anteriormente temer pela própria vida por se posicionar contra o Kremlin, deu uma possível justificativa para a retenção do corpo. Segundo ele, o governo russo poderia estar limpando os traços de um eventual veneno usado contra Navalany. Sugeriu o Novichok, mesma substância neurotóxica usada no envenenamento anterior.

Ainda de acordo com o repórter, inicialmente Moscou disse que o ativista morreu devido a um “coágulo sanguíneo”. Mais tarde mudou a causa para “síndrome da morte súbita” e, posteriormente, para causa “desconhecida”.

Lyubov Sobol, aliada de Putin e também procurada pelo governo, levantou a possibilidade de que o corpo jamais seja entregue, devido às acusações políticas que pesavam contra Navalny. “Na verdade, na Rússia, os corpos dos terroristas que morreram como resultado da repressão não são entregues aos familiares para serem enterrados”, disse ela. “Quando é que eles, os bastardos no poder, deixarão de zombar da família de Navalny?”

Quem também se manifestou publicamente foi o Pussy Riot. No memorial formado em frente à embaixada russa em Berlim, onde flores e velas foram depositadas para homenagear Navalny, integrantes do grupo de protesto exibiram uma enorme faixa com a frase “assassinos”.

Através do X, as ativistas do Pussy Riot reforçaram que “Navalny não morreu simplesmente. Ele foi assassinado.” E igualmente apontaram para o presidente da Rússia. “O que é preciso saber sobre Putin é que ele é muito mais frágil do que parece. Ele tem medo de seus oponentes.”

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