Um especialista afirmou à revista Newsweek que é altamente provável que o presidente russo, Vladimir Putin, tenha utilizado um dublê de corpo durante sua recente aparição pública após a rebelião armada do Wagner Group. Após a tentativa frustrada de um levante da organização paralimitar então liderada por Evgeny Prigozhin, no último final de semana, o chefe do Kremlin fez uma visita à república do Daguestão, no sul da Rússia, supostamente para discutir o turismo na região.

Em meio a essa atmosfera turbulenta, surgiram especulações sobre a autenticidade das imagens da viagem de Putin, sugerindo que ele poderia estar sendo substituído por um sósia em vez de interagir com os cidadãos. Vídeos que viralizaram na internet mostram Putin apertando as mãos de apoiadores e dando um beijo na cabeça de uma estudante.

Esses comportamentos incomuns exibidos nos vídeos foram questionados tanto por jornalistas ocidentais como por influentes blogueiros militares nacionalistas russos, incluindo Igor Girkin.

O governo russo negou veementemente o uso de dublês por parte de Putin, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descartando os relatos como “mais uma mentira” em abril. Em 2020, o mandatário afirmou à agência de notícias estatal Tass que lhe foram oferecidos substitutos para aparições públicas nos anos 2000, mas ele recusou essa possibilidade. Até o momento, não há provas concretas que comprovem o uso de substitutos por parte de Putin.

Ainda assim, a maneira notável como Putin se comportou destoa do seu padrão habitual e foi classificada como “extraordinária” por Matthew Wyman, professor sênior especializado em política russa na Keele University, no Reino Unido.

Wyman afirmou à Newsweek na quinta-feira (29): “Não há dúvida de que não era Vladimir Putin. Era um dublê de corpo.”

O analista acrescentou que é absolutamente inimaginável que o líder russo se envolvesse pessoalmente em um compromisso tão pouco tempo após a ameaça que o Wagner Group representou para a estabilidade de seu governo.

O mundo prendeu o fôlego entre sexta-feira (23) e sábado (24) conforme os mercenários avançavam Rússia adentro rumo a Moscou, em um motim que configurou a maior ameaça ao poder do de Putin desde que ele assumiu o poder há 23 anos.

A tentativa frustrada de golpe de Estado, entretanto, não pode ser classificada como surpreendente. Analistas e aliados do líder russo vinham alertando para a ameaça representada por Prigozhin, que nos últimos meses deixou de ser um importante aliado do Kremlin para se tornar seu principal inimigo.

Após o episódio, Wyman observou diferenças marcantes no comportamento de Putin na comparação com suas aparições anteriores.

“Em todos os aspectos, Putin simplesmente não age dessa forma”, afirmou ele, destacando que a linguagem corporal nos vídeos da visita ao Daguestão não condiz com os comportamentos passados de um “homem que não demonstra emoções publicamente”.

Teoria das selfies

Marina Miron, pesquisadora de pós-doutorado no Departamento de Estudos de Guerra do King’s College, de Londres, concordou que houve mudanças perceptíveis no comportamento de Putin, especialmente em relação à sua interação mais aberta com a multidão.

“Essa é provavelmente a principal razão pela qual surgiram essas teorias de dublês”, afirmou ela à Newsweek na quinta-feira.

Wyman acrescentou que Putin é extremamente cauteloso sobre quem permite que se aproxime dele.

Relatórios anteriores indicaram que, durante a pandemia de Covid-19, Putin adotou medidas rigorosas de quarentena para se proteger do risco de infecção. No início deste ano, um ex-oficial de segurança russo mencionou que o líder do Kremlin “criou uma barreira de quarentena impenetrável ao seu redor”.

“Miron observou que não é comum ver Putin permitindo que as pessoas se aproximem dele (desde a pandemia), e aqui estamos vendo o presidente tirando selfies com pessoas comuns”, concluiu ela.

Diversas teorias têm circulado nos últimos anos, incluindo a ideia de que Putin utiliza vários substitutos. Autoridades ucranianas têm repetidamente afirmado que o líder do Kremlin utiliza dublês, com Andriy Yusov, porta-voz da agência de inteligência militar de Kiev, declarando em uma entrevista no início de junho que Putin “nunca conversaria com supostos moradores locais”.

“Conhecemos especificamente três pessoas que continuam aparecendo, mas não sabemos quantas são”, revelou Kyrylo Budanov, chefe da inteligência militar ucraniana, ao The Daily Mail em outubro de 2022, referindo-se aos aparentes encontros de Putin com membros do público.

Budanov afirmou que os substitutos são identificados por meio de gestos, linguagem corporal e até mesmo pelos lóbulos das orelhas.