Aniversário de Navalny leva seguidores às ruas e gera mais de cem prisões na Rússia

Manifestações de apoio ao maior rival político de Putin, que completou 47 anos no domingo, ocorreram em todo o mundo

Mais de cem pessoas foram detidas pelas autoridades em diversas cidades da Rússia no último sábado (4). Elas foram às ruas manifestar publicamente apoio ao político Alexei Navalny, principal adversário do presidente Vladimir Putin, por ocasião do aniversário de 47 anos do oposicionista. As informações são do grupo OVD-Info, que monitora a repressão estatal no país.

Atualmente, Navalny cumpre pena de mais de 11 anos de prisão e passou o dia do aniversário em uma cela de isolamento solitário, punição que se tornou habitual ao longo da detenção. Ele usou a conta que mantém no Twitter, atualizada por aliados políticos, para se manifestar.

“Mas o maior obrigado e a maior saudação que quero fazer hoje vai para todos os presos políticos na Rússia, Belarus e outros países. A maioria deles tem muito mais dificuldade do que eu. Eu penso neles o tempo todo. A resiliência deles me inspira todos os dias”, disse o rival de Putin.

Para celebrar o aniversário do oposicionista, apoiadores foram às ruas protestar contra a prisão dele, considerada politicamente motivada. As forças de segurança, prevendo o movimento, intensificaram o patrulhamento sobretudo em Moscou, embora protestos tenham sido registrados também em São Petesburgo e outras cidades.

Como tem sido comum na Rússia, os seguidores de Navalny optaram pro protestos individuais, a fim de tentar driblar a proibição de protestos coletivos estabelecida durante a pandemia de Covid-19, então sob a justificativa de evitar aglomerações. Ainda assim, o OVD-Info registrou 117 prisões.

As autoridades russas usaram as mais diversas justificativas legais para deter os manifestantes. Perto da Praça Vermelha, em Moscou, um homem que segurava um cartaz com a palavra “parabéns” foi preso por interferir no trânsito. Ele alegou que não estava se dirigindo a Navalny, e sim a “um amigo”. Ainda assim, foi condenado a dez dias de prisão e recebeu multa de 15 mil rublos (R$ 914).

Também na capital russa, um outro homem foi abordado pela polícia, que no celular dele identificou acessos ao site jornalístico independente Meduza e à página do próprio OVD-Info. Levado à delegacia, ele se recusou a falar com as autoridades, que acabaram por liberá-lo sem formalizar qualquer acusação.

Em seu Twitter, Navalny compartilhou fotos de manifestações de apoio em diversos países do mundo. França, Alemanha, Austrália, Chipre, Estônia, República Tcheca e Israel são algumas das nações onde foram registrados protestos contra a detenção do político russo e contra a repressão na Rússia em geral.

Manifestação de apoio a Alexei Navalny em Praga, na República Tcheca (Foto: twitter.com/navalny
Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Nos meses seguintes, novas acusações surgiram contra o rival de Putin. Em janeiro de 2022, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março do ano passado, foi julgado por peculato e desacato, com o tempo de detenção ampliado para 11 anos e meio.

Mais recentemente, em abril de 2022, novas acusações de “terrorismo” foram apresentadas contra ele pela Justiça da Rússia, o que pode levar a uma sentença de prisão perpétua em caso de condenação.

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