Navalny diz que acusações de ‘terrorismo’ podem mantê-lo na cadeia por toda a vida

Rival de Putin chama as acusações de “absurdas” e diz que o suposto crime teria sido cometido quando ele já estava preso

O político russo Alexei Navalny, que atualmente cumpre pena de mais de 11 anos de reclusão em uma colônia penal próxima a Moscou, diz que novas acusações de “terrorismo” apresentadas contra ele pela Justiça da Rússia podem levar a uma sentença de prisão perpétua. As informações são da agência Associated Press (AP).

Através do Twitter, que é atualizado pela equipe dele, o político disse que será submetido a pelo menos mais dois julgamentos. As acusações, que Navalny chama de “absurdas”, incluem os crimes de promover o terrorismo, apelar publicamente ao extremismo, financiar atividades extremistas e reabilitar o nazismo.

Monitor exibe audiência virtual com Navalny, que falou de dentro da prisão (Foto: instagram.com/navalny)

Nos posts publicados na rede social nesta quarta-feira (26), o principal rival doméstico do presidente Vladimir Putin destacou que uma dessas acusações tem pena máxima prevista de 30 anos, algo que Navalny já havia informado em outubro do ano passado. Elas estariam ligadas a vídeos publicados no canal dele no YouTube, rede social que segue aberta na Rússia.

Entretanto, Navalny revelou agora que um segundo caso de “terrorismo” foi aberto e será julgado por uma corte militar. Nesse caso, a prisão perpétua é uma possibilidade.

“Fizeram acusações absurdas que me ameaçam com 30 anos de prisão”, disse ele na rede social. “E o investigador Vidyukov disse ontem que um caso de terrorismo foi destacado deste outro. Eu, enquanto estava na prisão, cometi ataques terroristas. E neste caso serei julgado separadamente por um tribunal militar”, diz o post.

Navalny, porém, não deu mais detalhes sobre as acusações porque alega que inicialmente não recebeu autorização para estudar os autos processuais, com cerca de 700 páginas. Posteriormente, ele disse que lhe será permitido estudar o processo por dez dias.

Ivan Zhdanov, um dos associados do opositor, afirma que o caso mais grave, que prevê prisão perpétua, está relacionado ao atentado a bomba contra Vladlen Tatarsky, influente blogueiro militar pró-guerra morto em uma explosão no início deste mês em São Petersburgo.

Dias após a morte, a polícia prendeu a jovem Darya Trepova, de 26 anos, por supostamente entregar a Tatarsky uma estatueta com uma bomba. Descrita pela imprensa internacional como crítica à invasão da Ucrânia, ela já havia sido detida por participar de protestos contra a guerra. As autoridades, porém, a classificam como fervorosa apoiadora de Navalny e a acusam de agir a mando de Kiev.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Nos meses seguintes, novas acusações surgiram contra o rival de Putin. Em janeiro de 2022, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março do ano passado, foi julgado por peculato e desacato, com o tempo de detenção ampliado para 11 anos e meio. E agora encara a ameaça da prisão perpétua.

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