Aplicativos e redes sociais excluem música de protesto de Hong Kong

Versões da canção Glory To Hong Kong sumiram de Spotify, Itunes, Facebook e Instagram após ação do governo chinês

A canção Glory To Hong Kong (Glória a Hong Kong, em tradução literal), que se tornou o hino extraoficial dos protestos pró-democracia em Hong Kong em 2019, começou a ser excluída do catálogo de serviços de distribuição de música e de plataformas de mídias sociais. As informações são do site independente Hong Kong Free Press.

No Spotify, diversas versões originais da música, composta por Thomas DGX YHL, ainda aparecem nas buscas em inglês, mas exibem a mensagem de indisponível” quando reproduzidas. Já uma busca em chinês feita no Apple Music exibe somente uma versão da banda The Chairman, de Taiwan.

Segundo a agência Reuters, as redes sociais Facebook e Instagram também deixaram de exibir a música original nas buscas, que apresentam somente a mesma versão taiwanesa. Em todos os casos, não está claro se a exclusão foi decisão das empresas ou do artista.

Artistas e manifestantes cantam “Glory to Hong Kong” durante um protesto em um shopping de Hong Kong em setembro de 2019 (Foto: Studio Incendo/WikiCommons)

Fato é que Glory To Hong Kong foi excluída justamente no momento em que o governo de Hong Kong, subordinado a Beijing, atua para ampliar a censura à música. Na semana passada, o governo honconguês ingressou com um pedido de liminar na Justiça para proibir a execução e a distribuição da canção.

A ação judicial visa a proibir qualquer pessoa de “transmitir, executar, imprimir, publicar, vender, colocar à venda, distribuir, disseminar, exibir ou reproduzir de qualquer forma” a canção de protesto.

Glory To Hong Kong não é oficialmente proibida no território semiautônomo. Porém, em 2020 o governo proibiu o slogan de protesto Liberate Hong Kong, revolution of our times (Liberte Hong Kong, revolução dos nossos tempos, em tradução literal). Como parte dele está na letra da canção, as autoridades têm usado essa brecha legal para punir a canção.

A letra fala em democracia e liberdade e incomoda o governo chinês, que a considera um estímulo à independência de Hong Kong. Também pesa o fato de que vários grandes eventos, sobretudo esportivos, tocaram Glory To Hong Kong como sendo o hino oficial de Hong Kong em vez do hino nacional chinês, “A Marcha dos Voluntários”.

Um desses episódios ocorreu em novembro de 2022, em um torneio de rúgbi de sete na Coreia do Sul. Antes de as equipes masculinas se enfrentarem na final do Asian Rugby Seven Series, em Incheon, os organizadores executaram Glory To Hong Kong. O mesmo ocorreu no campeonato asiático de levantamento de peso, em Dubai, no início de dezembro.

O governo de Hong Kong trava também uma queda de braços com o Google para que a empresa de tecnologia altere seus resultados de buscas. Isso porque quem procura pelo hino nacional do território vê no primeiro resultado a canção popularizada nos protestos. Até hoje o algoritmo não foi alterado como deseja Beijing, que pede “A Marcha dos Voluntários” do topo das pesquisas.

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