Após boicote à posse, Europa ameaça não reconhecer Putin como presidente da Rússia

Países contestam legitimidade da eleição russa e debatem a medida extrema, embora improvável, de romper relações

Vladimir Putin tomou posse na terça-feira (7) para seu quinto mandato como presidente da Rússia, em cerimônia que não contou com representantes dos EUA e da maioria dos países da União Europeia (UE). O caso europeu, entretanto, pode ter um desdobramento ainda mais importante, conforme se desenrola um debate para que países do continente não reconheçam oficialmente o chefe de Estado, mediante o argumento de que a eleição de abril foi fraudada.

Embora improvável, a possibilidade de ruptura total entre Moscou e alguns Estados europeus foi levantada em abril pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), um órgão deliberativo desvinculado da UE. Na oportunidade, foi feita aos Estados-Membros uma recomendação não vinculativa para que deixassem de reconhecer Putin, segundo relatou a rede Deutsche Welle (DW).

Na sequência, o Parlamento Europeu seguiu caminho semelhante ao aprovar uma resolução que insta as nações a “não reconhecerem o resultado das eleições presidenciais russas como legítimo” e a “limitarem as relações com Putin a questões necessárias para a paz regional, bem como para fins humanitários e de direitos humanos”.

Putin toma posse para seu quinto mandato: choque com a União Europeia (Foto: kremlin.ru/divulgação)

A resolução do Parlamento, porém, também não é vinculativa, e uma decisão diplomática no sentido de não reconhecer Putin dependeria de aprovação unânime dos 27 Estados-Membros. Algo bastante improvável, considerando que o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, mantém ótima relação com Moscou e inclusive enviou representante à posse.

No entanto, Ionela Maria Ciolan, especialista em política externa europeia do Centro Wilfried Martens de Estudos Europeus, diz que o objetivo dos países do continente, de enviar uma mensagem dura a Putin, foi parcialmente alcançado com a resolução da UE e a recomendação da APCE.

Segundo ela, tais manifestações “têm um forte impacto simbólico e indireto, pois funcionam como uma recomendação aos [Estados-Membros] e enviam uma mensagem aos governos de toda a Europa de que os partidos de todo o espectro político apoiam esta visão.”

O passo mais largo, de romper oficialmente as relações diplomáticas com Moscou, é visto por outros analistas como improvável e inclusive prejudicial aos países europeus, sobretudo no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Qualquer decisão de não reconhecer Putin prejudicaria significativamente a capacidade de Bruxelas de negociar e promover a segurança ucraniana, bem como a estabilidade do continente”, diz Roger Hilton, membro do GLOBSEC, um think tank com sede na Eslováquia.

Segundo ele, o bloco não pode ser dar ao luxo de romper totalmente com Moscou. “Todos podem concordar que Putin é um indivíduo desprezível, cuja legitimidade como presidente russo está enraizada na corrupção e na fraude. No entanto, a UE não pode escolher seletivamente com quem faz negócios.”

Os EUA, embora descartem a possibilidade de não reconhecer Putin, também contestam o pleito. “Certamente não consideramos aquelas eleições livres e justas, mas ele é o presidente da Rússia e vai continuar nessa posição”, disse Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, de acordo com a agência Reuters.

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