Reeleição de Putin é marcada por protestos de dissidentes no exterior

Com os rivais mortos, presos, exilados ou impedidos de concorrer, Putin ficará no poder até 2030, após um pleito contestado globalmente

Após a reeleição de Vladimir Putin como presidente da Rússia no domingo (17), ocorreram protestos em várias partes do mundo. Ativistas russos e organizações da sociedade civil que atuam no exterior convocaram os eleitores a levantar bandeiras pró-democracia e antiguerra em diversas cidades, especialmente em frente aos postos de votação.

Como previsto, Putin assegurou seu quinto mandato presidencial em uma eleição amplamente criticada por falta de transparência e pela presença de opositores “chapa branca”, dado que os oponentes legítimos foram mortos, presos, exilados ou impedidos de concorrer. A votação ocorreu entre sexta-feira (15) e domingo, garantindo que o presidente permaneça no Kremlin até 2030.

A diáspora russa em Berlim aderiu ao movimento de oposição chamado “Meio-dia Contra Putin“, realizando um protesto simbólico contra Putin no último dia das eleições presidenciais russas, informou o jornal Washington Post.

A Alemanha, que abriga uma das maiores comunidades de russos no exterior, testemunhou uma grande participação dos eleitores, com filas de até cinco horas. O sentimento predominante era anti-Putin, com os manifestantes exibindo mensagens e empunhando bandeiras com faixas em azul e branco, adaptando a bandeira russa para expressar sua oposição de forma pacífica.

Mais de cinco mil imigrantes russos formam filas na embaixada russa em Yerevan, Armênia, para votar nas eleições presidenciais de 2024 (Foto: WikiCommons)

O ato “Meio-dia Contra Putin” foi proposto pelo político de São Petersburgo Maxim Reznik e apoiado pela ativista Alexei Navalny antes de sua morte. Reznik viu isso como uma maneira segura para os russos dentro e fora do país se reunirem publicamente e expressarem sua oposição ao presidente.

“Há muitas pessoas ao seu redor que são contra Putin e contra a guerra, e se nos reunirmos ao mesmo tempo, nossa voz contra Putin será muito mais alta”, disse Yulia Navalnaya, viúva de Navalny, que prometeu continuar seu trabalho de protesto, repercutiu o jornal The Guardian.

Na Sérvia, milhares de russos se reuniram na escola da Embaixada da Rússia em Belgrado para participar do “Meio-dia Contra Putin”, segundo informações do site independente The Moscow Times. O protesto teve como objetivo mostrar resistência ao presidente russo em uma eleição amplamente considerada como uma mera formalidade.

A fila, que se estendeu por mais de um quilômetro, envolvia a escola em um abraço irônico, lembrando a imagem da cobra mitológica que se alimenta de si mesma, a Ouroboros, símbolo que representa o conceito da eternidade através da figura de uma serpente que morde a própria cauda.

Desde o início da invasão à Ucrânia, cerca de 370 mil russos migraram para a Sérvia buscando refúgio da guerra e da repressão, bem como para evitar as consequências das sanções econômicas impostas ao seu país pelo Ocidente. Aproximadamente seis mil se registraram para votar, conforme a ONG Voteabroad.info e o grupo ativista russo RDO, que oferecem orientações sobre o registro eleitoral remoto através de seu site e canal no Telegram.

Observadores descreveram a cena em Belgrado como uma manifestação “impressionante”, destacando a insatisfação popular em relação ao regime imposto pelo chefe do Kremlin.

No domingo, milhares de russos viajaram para Belgrado para votar. As passagens de trens de outras cidades estavam esgotadas. Muitos expressaram coragem em votar contra Putin, apesar dos riscos. O “Meio-dia contra Putin” sinalizou uma crescente oposição organizada no exílio, unificando esforços contra o governo russo.

Ouvido pela reportagem, Alexei, um advogado, disse: “Apesar dos riscos, não tenho receio de votar contra Putin, pois já não possuo vínculos na Rússia: nem família, nem propriedades. No entanto, entendo aqueles que se sentem incapazes de revelar suas identidades e passaportes devido ao temor por suas famílias.”

Em frente à Embaixada da Rússia em Belgrado, um funcionário de TI de Moscou declarou que não estava mais preocupado em esconder o rosto. “As autoridades não têm mais poder sobre nós. Éramos muitos no funeral (de Navalny) em Moscou e também aqui”, afirmou ele.

Pelo mundo

Longas filas surgiram tanto nas cidades russas quanto nas capitais mundiais, onde a diáspora cresceu com a chegada de centenas de milhares de pessoas em uma onda de emigração desencadeada pela guerra e pela agitação interna.

Em Londres, centenas de manifestantes se reuniram em frente à embaixada, segurando faixas que expressavam oposição a Putin e à guerra na Ucrânia. Canções de protesto, incluindo ‘This Will Pass’ da banda de punk russa Pornofilmy, foram transmitidas através de alto-falantes.

Houve longas esperas em Yerevan, na Armênia, e em Almaty, no Cazaquistão, para onde dezenas de milhares de russos emigraram, além de locais como a rua pedonal Istiklal, em Istambul, na Turquia, e Phuket, na Tailândia, e em cidades por toda a Europa, incluindo Riga, na Letônia, e Haia, na Holanda.

Lideranças se manifestam

Após a esperada vitória de Putin nas eleições de 2024, houve repercussões globais. Líderes de outros países e organizações expressaram suas opiniões sobre o pleito:

Na Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky denunciou as eleições como “uma farsa” e afirmou que Putin está obcecado pelo poder. Ele sugeriu que seu homólogo russo deveria ser julgado em Haia.

Na Casa Branca, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA declarou que as eleições “não foram livres nem justas”, especialmente considerando a prisão de opositores políticos por Putin.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha classificou o processo eleitoral russo como “autoritário”, marcado por “censura, repressão e violência”. Também considerou a votação nos territórios ocupados da Ucrânia como “inválida”.

David Cameron, ex-Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, destacou que as eleições ocorreram sob “extrema repressão”, impossibilitando uma escolha livre e democrática.

Rumos aos 30 anos de poder

A trajetória do ex-agente da KGB no poder teve início em dezembro de 1999, quando assumiu a presidência interina após a renúncia do então primeiro-ministro Boris Yeltsin. Sua abordagem firme durante o conflito na Chechênia chamou a atenção da opinião pública, que enxergou naquela figura um líder disposto a recolocar sob as ordens de Moscou os rebeldes chechenos.

Desde então, Putin consolidou seu poder e aumentou a influência da Rússia globalmente, mas também enfrentou críticas devido à violência, autoritarismo, perseguição de opositores políticos, censura à imprensa e repressão de ativistas contrários ao regime. Isso inclui a guerra no Cáucaso, ações de suas forças especiais com vítimas civis, a queda suspeita de um avião comercial e a invasão da Ucrânia em 2022.

Os mais longevos

Putin superou todos os líderes russos em tempo de presidência desde Josef Stalin. Conheça alguns de seus mais célebres antecessores:

Josef Stalin: Stalin foi o líder da União Soviética de 1924 até sua morte em 1953, servindo por quase três décadas. Durante seu longo período no poder, ele exerceu um controle autoritário sobre o país e liderou a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e a subsequente Guerra Fria.

Leonid Brezhnev: Brezhnev foi o líder da União Soviética de 1964 até sua morte em 1982, ocupando o cargo por quase duas décadas. Seu governo foi marcado pelo período conhecido como “Era Brezhnev” e uma estabilização das relações com o Ocidente.

Boris Yeltsin: Boris Yeltsin foi o primeiro presidente da Rússia após o colapso da União Soviética em 1991. Ele ocupou o cargo de 1991 a 1999, embora seu tempo no poder tenha sido marcado por mudanças significativas e tumultos políticos.

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