A Fundação Hind Rajab (HRF, na sigla em inglês), sediada em Bruxelas, na Bélgica, vem intensificando suas ações contra soldados israelenses que acusa de crimes de guerra no conflito em Gaza. A entidade protagonizou um desses casos no Brasil, onde iniciou uma ação judicial que levou à abertura de uma investigação contra o soldado Yuval Vagdani, então em férias no país.
Segundo a HRF, Vagdani, de 21 anos, teria postado vídeos nas redes sociais exibindo atos de destruição durante operações em Gaza. Após a abertura da investigação, o militar apagou suas redes e deixou o Brasil com apoio de Israel.
“Infelizmente, o governo israelense contrabandeou o soldado para fora do Brasil, o que é, claro, obstruiu a justiça”, afirmou nesta semana o presidente da HRF, Dyab Abou Jahjah, em entrevista ao site Democracy Now.
Ainda assim, ele analisou o caso brasileiro como um sucesso. “Este é um avanço no nível legal, porque é a primeira vez que um juiz e um Estado signatário do Estatuto de Roma agem com base no Estatuto de Roma sem um mandado do TPI (Tribunal Penal Internacional)”, disse, citando o texto que estabeleceu a corte de Haia.

Após o caso no Brasil, a fundação apresentou uma nova queixa, em Roma, na Itália. O alvo é o major general Ghassan Alian, chefe do escritório do COGAT (Coordenador de Atividades Governamentais nos Territórios, na sigla em inglês), que é responsável pela administração de territórios palestinos ocupados.
Alian causou controvérsia com declarações feitas após o ataque do Hamas a Israel em 2023. “Animais humanos devem ser tratados como tal”, disse ele em uma mensagem de vídeo direcionada à população de Gaza. “Não haverá eletricidade nem água. Só haverá destruição. Vocês queriam o inferno; vocês terão o inferno.”
A HRF se manifestou sobre o caso através da rede social X, antigo Twitter. “A desumanização pública de palestinos como ‘animais humanos’ por Alian reflete sua intenção por trás dessas políticas. Sem imunidade sob a lei internacional, a HRF enfatiza que a Itália é obrigada a agir rapidamente. O TPI já emitiu mandados de prisão por crimes semelhantes contra autoridades israelenses, e Alian supervisionou diretamente essas políticas”, diz o texto.
🚨🚨 Breaking: HRF Calls for Immediate Arrest of IDF Major General Ghassan Alian who is currently in Rome.
— The Hind Rajab Foundation (@HindRFoundation) January 13, 2025
The #HindRajabFoundation (HRF) has filed cases with the ICC and informed Italian authorities demanding the immediate arrest of Major General Ghassan Alian, Head of COGAT,… pic.twitter.com/NMMi7yNsBZ
A HRF, fundada em 2024, trabalha reunindo evidências postadas por soldados israelenses, nas quais muitas vezes se vangloriam de atos como saques, incêndios e tortura. A entidade usa informações de fonte aberta para identificar possíveis crimes, mas só age quando os envolvidos viajam para o exterior.
“O que fazemos é monitorar as postagens de soldados israelenses, que têm extensivamente, como você sabe e todo mundo sabe, postado coisas de Gaza, do genocídio em andamento lá”, declarou Jahjah, que o jornal The Jerusalem Post acusa de ser um ex-membro do Hezbollah.
Barreiras políticas e legais
Além do Brasil e da Itália, a HRF apresentou queixas em países como França, Sri Lanka, Chipre e Equador. Contudo, o avanço jurídico desses casos enfrenta desafios. Na Itália, onde o direito internacional não foi plenamente incorporado à legislação doméstica, os processos dificilmente chegam aos tribunais. Já na Alemanha, que possui um código para crimes internacionais, a barreira é política.
No caso alemão, especialistas afirmam que o governo evita investigar israelenses devido à sensibilidade do tema. “O caso de Israel é altamente delicado e enfrenta oposição política, o que impacta investigações contra cidadãos israelenses”, afirmou o professor de direito internacional Kai Ambos à rede Deutsche Welle (DW).
Embora nenhuma denúncia da HRF tenha sido testada judicialmente até o momento, a pressão internacional tem causado desconforto em Israel. Recentemente, o exército israelense impôs novas regras para proteger seus soldados no exterior, restringindo a divulgação de identidades e imagens.
Com os conflitos em Gaza resultando em mais de 46 mil mortos desde outubro de 2023, a HRF busca manter a atenção mundial sobre os supostos abusos. Mesmo enfrentando críticas de Israel, que a acusa de antissemita, a fundação tem provocado debates sobre responsabilização em tempos de guerra.