Arsenal nuclear da Rússia impede a Otan de entrar na guerra, segundo autoridade militar

Chefe do Comitê Militar da aliança aponta que armas nucleares da Rússia inibem resposta direta no território ucraniano

O arsenal nuclear da Rússia tem sido o principal fator a impedir a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de enviar tropas para participar efetivamente da guerra na Ucrânia. Segundo o almirante Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da aliança, se não fossem as armas de destruição em massa de Moscou, soldados ocidentais já teriam sido enviados ao campo de batalhas. As informações são da revista Newsweek.

Com o maior estoque de armas nucleares do mundo, seguido pelos Estados Unidos, a Rússia mantém um potencial destrutivo que impede ações mais agressivas da Otan. Juntos, Moscou e Washington possuem cerca de 90% das armas nucleares globais, criando um impasse na atuação direta em conflitos como o da Ucrânia, onde as tensões já atingiram níveis alarmantes.

Desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin colocou as forças de dissuasão nuclear do país em estado de alerta máximo, um sinal claro de que o Kremlin vê o conflito como uma potencial ameaça de escala global. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, chegou a afirmar, meses após o início do conflito, que o risco de uma guerra nuclear havia se tornado considerável.

O almirante Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da Otan (Foto: Nato/Flickr)

Figuras proeminentes do cenário russo, como o ex-presidente Dmitry Medvedev, além de comentaristas da mídia estatal, frequentemente mencionam a possibilidade de um conflito nuclear, sugerindo até que ataques nucleares poderiam ser lançados contra países que apoiam a Ucrânia, como os EUA e o Reino Unido.

Embora a Otan seja composta por potências nucleares, como os EUA, Reino Unido e França, os líderes da aliança têm mantido cautela em relação a um envolvimento direto. Em fevereiro, o presidente francês Emmanuel Macron sinalizou a possibilidade de enviar soldados, mas logo foi contido por outras autoridades da Otan e pelos Estados Unidos, com o presidente Joe Biden afirmando que o envio de tropas americanas à Ucrânia estava fora de questão.

A postura da Otan tem sido de apoio logístico e militar à Ucrânia, sem envolvimento direto no campo de batalha. Como destacou Bauer, lutar na Ucrânia não é o mesmo que combater no Afeganistão, já que o Taleban, diferente da Rússia, não possui armas nucleares. A diferença, segundo ele, é significativa e impede uma resposta mais contundente, mesmo diante das constantes ameaças russas.

Da teoria à prática

Nos últimos meses, Moscou vem ultrapassando a retórica inflamada para adotar medidas práticas ligadas a seu arsenal de armas de destruição em massa. O ponto crucial do processo foi a flexibilização da doutrina nuclear anunciada por Putin em setembro. A medida determina que um ataque contra o país por um Estado não nuclear, mas que conte com o apoio de outro com armas nucleares, passará a ser encarado como um “ataque conjunto”.

Considerando o cenário da guerra da Ucrânia, a nova doutrina significa na prática que Moscou pode usar suas armas nucleares para responder a uma ação de Kiev com armas ocidentais. Até então, a norma previa o uso somente em resposta a um eventual ataque também nuclear, ou então para reagir a uma situação extrema que colocasse a própria existência do Estado russo em risco.

A decisão de Putin, bem como os recentes exercícios com o arsenal de destruição em massa, surgem conforme a  Otan cogita afrouxar as restrições ao uso de suas armas por Kiev, que pede liberdade para disparar os mísseis fornecidos pelo Ocidente contra o território russo. Argumenta que assim seria capaz de neutralizar a artilharia posicionada longe da região de fronteira.

Em junho, a Rússia já avia realizado exercícios militares que despertaram o interesse ocidental devido ao emprego de armas nucleares táticas, algo incomum. Tais manobras geralmente envolvem armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram para atingir Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, em manobras recentes, Moscou usou artefatos menos potentes, voltados a neutralizar posições inimigas, indício de que admite implantá-los na Ucrânia.

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