O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, condenou nesta segunda-feira (8) o recente ataque, atribuído às tropas da Rússia, contra a usina nuclear de Zaporizhzhya, no sul da Ucrânia.
“Qualquer ataque a usinas nucleares é suicida”, disse o chefe da ONU durante reunião em Tóquio, no Japão, acrescentando que espera que a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) possa acessar a usina para inspeção.
Tanto Moscou quanto Kiev negaram a responsabilidade pelo ataque ocorrido no fim de semana. Embora a maior usina nuclear da Europa esteja sob controle russo desde os primeiros dias da guerra, técnicos ucranianos ainda a administram.
A Energoatom, operadora da usina nuclear na Ucrânia, disse que o bombardeio, pelo qual Kiev culpa Moscou, danificou três monitores de radiação ao redor da instalação de armazenamento de combustíveis nucleares, no qual um trabalhador ficou ferido.
O bombardeio levou o diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, a alertar que a maneira como Zaporizhzhya estava sendo administrada, juntamente com os combates em torno dela, representam “o risco muito real de um desastre nuclear”.
Desde então, uma avaliação preliminar de especialistas da ONU descobriu que a situação de segurança e proteção parecia estável, sem ameaça imediata, apesar de vários pilares terem sido violados.
“Apoiamos a AIEA em seus esforços em relação a criar as condições de estabilização dessa usina”, declarou o chefe da ONU, que se disse esperançoso de que a agência tenha o acesso concedido.
Aniquilação total
Perguntado por que um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia ainda não havia sido realizado, Guterres afirmou estar trabalhando em estreita colaboração com a Turquia, que “lançou uma nova iniciativa em relação a um possível início de negociações de paz”.
Mas ele explicou que a Ucrânia não pode aceitar que “seu território seja tomado por outro país”, e que a Rússia “não parece disposta a aceitar” que as áreas que tomou “não sejam anexadas pela Federação Russa ou deem lugar a novos Estados independentes”.
Os comentários de Guterres seguiram uma visita a Hiroshima no fim de semana, onde o secretário-geral marcou o 77º aniversário do primeiro ataque nuclear do mundo, em 6 de agosto de 1945, destruindo a cidade e matando 140 mil pessoas.
Em meio às ameaças russas de um ataque nuclear desde que invadiu a Ucrânia em fevereiro, os temores de um terceiro bombardeio atômico aumentaram.
O português reiterou seu alerta sobre o uso de armas nucleares, dizendo que, se usadas, a ONU provavelmente não poderá responder porque “podemos não estar mais aqui”.
Com o pano de fundo de que o mundo atualmente tem 13 mil bombas nucleares enquanto continua a fazer grandes investimentos na modernização de arsenais atômicos, Guterres alertou que, após décadas de esforços de desarmamento nuclear, estamos “recuando”.
“Parem com isso”, ele apelou, ressaltando que os bilhões de dólares que estão sendo alavancados na corrida armamentista precisam ser usados para “combater as mudanças climáticas, combater a pobreza e atender às necessidades da comunidade internacional”.
O secretário-geral viajará em seguida para a Mongólia e a Coreia do Sul, a fim de discutir maneiras de abordar o desenvolvimento nuclear da Coreia do Norte.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News