Controle russo de usina ucraniana contraria os pilares da segurança nuclear, diz AIEA

Ucrânia informou oficialmente à AIEA que a maior usina nuclear da Europa está agora sob o controle das forças russas

O governo da Ucrânia informou oficialmente à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) que a usina nuclear de Zaporizhzhya está agora sob o controle das forças russas, após o bombardeio do local na semana passada.

O diretor-geral da agência, Rafael Mariano Grossi, recebeu a notícia no domingo (6) e disse que o desdobramento é “extremamente preocupante” e contraria os pilares da segurança nuclear previstos pela agência. Apesar de os funcionários ucranianos permanecerem na instalação, qualquer operação deve ser autorizada pelo comandante da Rússia.

Zaporizhzhya, considerada a maior usina nuclear da Europa e com seis reatores, foi tomada por forças militares da Rússia em meio a ofensiva contra a Ucrânia que começou em 24 de fevereiro. A usina tem mais de 200 técnicos e guardas, mas desde 23 de fevereiro deste ano eles não conseguem sair do local.

Usina nuclear de Zaporizhzhya, na Ucrânia (Foto: Wiklimedia Commons)

Em 2 de março, Mariano Grossi realizou com o Conselho Diretor da AIEA uma reunião de emergência para tratar do conflito na Ucrânia e as consequências para o programa nuclear do país. No encontro, ele apresentou sete pilares indispensáveis à segurança atômica e às salvaguardas. O item 3, por exemplo, determina que os funcionários da usina devem ter o direito de exercer seus deveres livres de pressão.

Segundo o governo da Ucrânia, as forças russas desligaram alguns sistemas de telefonia móvel e de internet para que informação confiável do sítio não fosse obtida por meio de canais normais de comunicação. Neste domingo, as linhas de telefone, e-mails e fax não estavam mais funcionando.

Algumas ligações por telefone celular ainda eram possíveis, mas com qualidade muito ruim. Para Rafael Mariano Grossi, é preciso haver comunicação segura com os reguladores e outros, algo fundamental principalmente no meio de um conflito que pode colocar em risco as instalações nucleares.

Grossi diz que não há sinais, até o momento, de vazamento de radiatividade e que os níveis permanecem normais. De toda forma, na última sexta-feira (4) ele se ofereceu à Rússia e à Ucrânia para viajar até Chernobyl e lá debater a situação da segurança nuclear das usinas.

A Agência da ONU informou que na cidade portuária de Mariupol também houve uma perda de comunicação desde a ofensiva russa e não se sabe ao certo se houve vazamento radiativo no local.

Insegurança alimentar

Em nota separada, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, disse ter conversado ao telefone com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, para falar do aumento das ações para ajuda humanitária dentro e fora da Ucrânia. Eles discutiram ainda condições para uma evacuação segura de ucranianos e estrangeiros das zonas de combate.

Já o chefe da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), Filippo Grandi, disse que o número de pessoas que cruzaram as fronteiras da Ucrânia para fugir da violência chegou a 1,5 milhão em apenas dez dias.

O PMA (Programa Mundial de Alimentos) voltou a afirmar que o conflito terá consequências para a segurança alimentar dentro e fora da Ucrânia. Segundo a entidade, juntas, Ucrânia e Rússia fornecem mais de 30% do trigo consumido no mundo e ao menos 80% do óleo de girassol. Somente no Líbano, metade do trigo usado no país vem da Ucrânia.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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