Belarus diz que interceptou um míssil lançado de dentro do território ucraniano

Incidente está sob investigação e ainda não está claro se o disparo foi feito por russos ou ucranianos. Mas Minsk já aponta o dedo para Kiev

O governo de Belarus anunciou nesta quinta-feira (29) que sua defesa antiaérea interceptou um míssil disparado em direção a seu território e proveniente da Ucrânia, palco de uma guerra iniciada no dia 24 de fevereiro pela invasão do país por tropas da Rússia. As informações são do jornal The Moscow Times.

O Ministério da Defesa belarusso diz que os fragmentos do míssil foram localizados em um vilarejo na região oeste de Brest, perto das fronteiras com Polônia e Ucrânia. Não está claro se o artefato foi disparado pelas forças russas ou ucranianas, mas Minsk já apontou o dedo para Kiev.

“Um forte protesto foi feito em conexão com o lançamento de um míssil guiado antiaéreo S-300 do território da Ucrânia”, disse o Ministério das Relações Exteriores belarusso, exigindo que a Ucrânia “conduza uma investigação completa” e “responsabilize os autores”.

Belarus disse ainda que “o chefe de Estado foi imediatamente informado sobre o evento”, referindo-se ao presidente Alexander Lukashenko. “Em seu nome, um grupo de especialistas entre os funcionários do comitê de investigação e o Ministério da Defesa estão estabelecendo o que causou a queda”, afirma o comunicado.

Embora este tenha sido o primeiro míssil a invadir o espaço aéreo de Belarus desde o início da guerra, o incidente não é inédito. Em novembro, um míssil ucraniano caiu na Polônia e matou duas pessoas. Na ocasião, chegou a se cogitar que o disparo tivesse partido da Rússia, o que inevitavelmente levaria a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a entrar efetivamente na guerra.

Exercício das forças belarussa na cidade de Vitebsk (Foto: WikiCommons)
Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra iniciada no dia 24 de fevereiro. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que a Rússia, governada pelo aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsch Welle, em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto do ano passado, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Tamanha proximidade levou governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus nas sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto e intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia” (em tradução livre), o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições mais severas a Minsk.

“Nos últimos cinco meses, o presidente belarusso Alexander Lukashenko permitiu que o presidente russo, Vladimir Putin, usasse Belarus como palco para a invasão russa. A Rússia lançou vários ataques aéreos do território belarusso à Ucrânia”, disse ele. “Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”.

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