Lukashenko fala em ‘integração’ com a Rússia, mas sem perda de soberania

Presidente belarusso admite "indícios de que integração é vista como a incorporação de Belarus à Rússia"

O presidente Alexander Lukashenko admitiu, durante uma entrevista coletiva, a possibilidade de integração de Belarus com a Rússia. Embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo, ele impôs como condição a manutenção da soberania de seu país, segundo informações da agência estatal russa Tass.

“Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse o líder belarusso quando questionado por um repórter russo. “Nunca nos opusemos a uma união mais próxima, mas sempre fomos mantidos à distância. E agora você [Rússia] está nos mantendo à distância”, acrescentou.

Lukashenko fala em 'integração' com a Rússia, mas sem perda de soberania
Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

O próprio Lukashenko admitiu que “há indícios de que a integração é vista como a incorporação de Belarus à Rússia”, para então reforçar sua posição anterior. “Somos um Estado soberano e independente”.

Segundo o presidente, porém, a ideia pode não trazer benefícios às duas nações. “Quando ouço essas sugestões sobre integração na Rússia, sempre penso de maneira semelhante ao [presidente russo Vladimir] Putin: a Rússia precisa de outra dor de cabeça? Não, não precisa. É assim que o presidente da Rússia entende isso. Não há necessidade de pegar nenhuma entidade e integrá-la em alguma estrutura quando falamos em implementar a integração e desenvolvê-la na economia como um todo “.

Ele citou uma questão econômica específica para exemplificar a dificuldade de unir os dois Estados. “Como podemos integrar se o preço do seu gás natural é dois ou três vezes mais baixo do que em Belarus?”.

Repressão pós eleições

Nesta segunda (9), completa-se um ano desde a vitória nas eleições presidenciais que garantiu a Lukashenko mais um mandato no poder. De lá para cá, as autoridades do país têm sufocado organizações não governamentais e a mídia independente como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais do pleito.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, está no poder desde 1994. De acordo com os dados oficiais, Lukashenko foi eleito em agosto de 2020 com 79,7% dos votos, enquanto Sviatlana Tsikhanouskaia recebeu 6,8%. O resultado é contestado por observadores e pela comunidade internacional, e desde 2020 os protestos contra o mandatário têm se intensificado.

Há frequentes relatos no país de violência policial contra jornalistas, defensores dos direitos humanos, manifestantes e oposicionistas em geral. São fortes os indícios de desaparecimento, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra cidadãos belarussos. Em meio à repressão, Tsikhanouskaia optou por deixar o país com seus dois filhos. O marido dela, Sergei Tikhanovsky, está preso.

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