Um cidadão belarusso cujo pedido de asilo político foi rejeitado pela Suécia foi preso tão logo retornou a Belarus junto da mãe, no último dia 21 de agosto. E a irmã dele tende a enfrentar o mesmo destino, com a deportação ordenada pelo governo sueco para 3 de setembro. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
O primeiro membro da família vitimado pela ditadura de Alexander Lukashenko foi o pai, preso em 2022 após ter participado de protestos populares em 2020 contra a reeleição do presidente, que governa o país desde 1994. Parentes alegam que o homem morreu na prisão e pediram, por questão de segurança, que os nomes não sejam divulgados.
Após a morte do pai, o filho, a filha e a mulher dele fugiram de Belarus para a Suécia, onde pediram asilo político sob o argumento de que eram perseguidos pelo regime. A Justiça do país escandinavo, porém, negou os pedidos argumentando que eles entraram no território sueco usando vistos italianos.
“Eles os deportaram de avião”, contou a filha, que agora tenta reverter a decisão e evitar destino semelhante ao do irmão. “Minha mãe disse que tudo foi feito com violência contra eles. Meu irmão resistiu um pouco, e minha mãe foi algemada, como uma espécie de assassina”, disse a mulher.
A moça disse que, após deixarem a Suécia de avião, os familiares foram levados à Lituânia, seguindo então para a zona neutra na fronteira com Belarus onde as forças de segurança belarussas os aguardavam. Ainda segundo ela, o paradeiro do irmão hoje é desconhecido.
Martin Ugla, um defensor dos direitos humanos que atua na Suécia, explicou que as leis de asilo político no país são muito rígidas. Assim, por mais que o caso seja “ultrajante”, nas palavras dele, as deportações “não são surpresa”. E relatou que apenas 3% dos belarussos que pediram asilo político após os protestos de 2020 foram atendidos pelo governo sueco.
Por que isso importa?
Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.
O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.
Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. A organização de direitos humanos Viasna diz que há atualmente quase de 1,5 mil prisioneiros políticos no país.
O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”.
A violenta repressão imposta por Lukashenko levou muitos oposicionistas a deixarem o país. Aqueles que não fugiram são perseguidos pelas autoridades e invariavelmente presos. É o caso de Sergei Tikhanovsky, que cumpre uma pena de quase 20 anos de prisão sob acusações consideradas politicamente motivadas. Ele é marido de Sviatlana Tsikhanouskaia, candidata derrotada na eleição presidencial e hoje exilada.
Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.