Bélgica prende oito suspeitos de ligação com a Al-Qaeda e o Estado Islâmico

Um dos detidos é acusado de crimes de guerra e contra a humanidade, e os outros sete planejavam ataques no país europeu

As autoridades da Bélgica realizaram nos últimos dias uma grande operação de contraterrorismo que terminou com a prisão de oito indivíduos acusados de ligação com grupos extremistas islâmicos. Entre eles está um membro da Al-Qaeda acusado de uma série de ataques em Bagdá, no Iraque, e sete seguidores do Estado Islâmico (EI).

As primeiras prisões foram anunciadas na quinta-feira (4), de acordo com a agência Associated Press (AP). Segundo a polícia, os detidos são sete indivíduos, a maioria deles de origem chechena, que planejavam realizar ataques terroristas no país europeu.

“Todos eles são suspeitos de preparar um ataque terrorista na Bélgica”, diz o comunicado das autoridades belgas. “O juiz de instrução decidirá em um estágio posterior se realizará uma audiência e possivelmente emitirá um mandado de prisão”.

Entre os sete indivíduos, quatro têm cidadania belga, de acordo com a Promotoria de Justiça federal. Todos foram descritos como “fortes apoiadores do EI”.

“As possíveis acusações são tentativa de assassinato terrorista, participação em atividades de um grupo terrorista e preparação de um ataque terrorista”, segundo o comunicado.

A oitava prisão foi anunciada nesta sexta-feira (5). O acusado é um cidadão iraquiano acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade por ter participado de uma série de ataques a bomba em Bagdá, capital do Iraque.

A identidade do extremista não foi revelada. Ele foi descrito como um homem de 40 anos que vive na Bélgica desde 2015 e é “parcialmente responsável por vários atentados na Zona Verde de Bagdá em 2009 e 2010, que mataram pelo menos 376 pessoas e feriram mais de 2,3 mil”.

A Justiça atribui a ele “vários assassinatos com intenção terrorista, participação em atividades de grupo terrorista, crimes de guerra e crimes contra a humanidade”.

A Bélgica sofreu dois terríveis atentados terroristas em março de 2016. Duas bombas explodiram no saguão de embarque do aeroporto internacional de Bruxelas, seguidas por um terceiro explosivo que foi acionado na estação de metrô Maelbeek. No total, 32 pessoas morreram e mais de 300 se feriram.

Os atentados suicidas, dos quais dez supostos jihadistas são acusados ​​de participar, são os piores episódios de violência em tempos de paz no país europeu.

Integrantes dos exércitos dos EUA e do Iraque exibem bandeira do Estado Islâmico (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em fevereiro do ano passado, o EI sofreu um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, líder da facção. Em outubro, o próprio grupo revelou que Abu al-Hassan al-Hashimi al-Qurashi, sucessor de Abu Ibrahim, também foi morto. Um terceiro líder do grupo, Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, foi morto em abril de 2023 durante ação de forças turcas.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU divulgado no final de maio do ano passado.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O ex-líder da organização Ayman al-Zawahri, inclusive, foi morto em território afegão em um ataque das forças armadas dos EUA no dia 1º de agosto de 2022.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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