Berlim acusa Moscou de pagar cidadãos alemães para que atuem como espiões

Chefe de inteligência alemã relata um caso de dois indivíduos que teriam recebido 400 mil euros para servir ao governo russo

Nos últimos anos, cerca de 600 diplomatas russos foram expulsos de países europeus suspeitos de realizar atividades de espionagem sob o manto da diplomacia. A devassa comprometeu a atuação dos serviços de inteligência de Moscou, e o governo alemão diz que isso forçou a Rússia a usar incentivos financeiros para recrutar espiões estrangeiros em substituição. As informações são da agência Reuters.

“A Rússia está trabalhando duro para compensar a redução do governo alemão no número de agentes russos na Alemanha”, disse Thomas Haldenwang, chefe do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico local.

A revelação surge acompanhada de uma denúncia contra dois alemães que teriam recebido cerca de 400 mil euros cada um para que atuassem a serviço da inteligência russa. De acordo com Haldenwang, o alto valor do suborno “mostra que os serviços da Rússia continuam a ter enormes recursos financeiros para prosseguir os seus objetivos de inteligência.”

Thomas Haldenwang em Berlim, fevereiro de 2020 (Foto: Divulgação/Kirchenkreis Wuppertal)

Berlim vem registrando um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou no país, e um relatório divulgado em junho de 2023 pelo BfV destacou as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. No ano passado, Haldenwang já havia afirmado, mesmo em meio à forte campanha de combate à espionagem, que existe um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Além de fornecer vantagens financeiras, Moscou usa chantagem para forçar cidadãos alemães a se virarem contra o próprio país. O alvo preferencial são indivíduos que viajam frequentemente para a Rússia a trabalho ou que vivem naquele país.

“Assim que têm informações comprometedoras sobre os seus alvos, estes serviços não hesitam em empregar técnicas de recrutamento agressivas”, afirmou o chefe de inteligência.

“Atividades malignas”

Os diplomatas russos, entretanto, continuam sendo a prioridade dos países europeus no enfrentamento à espionagem. Nesse sentido, oito ministros das Relações Exteriores da UE solicitaram na semana passada eu o bloco proíba tais indivíduos de se movimentarem livremente pelo bloco, restringindo a circulação ao os país onde cada um deles está credenciado.

O pedido foi feito em uma carta enviada a Josep Borrell, chefe da política externa da UE, cujo conteúdo foi revelado pela Reuters. Segundo o documento, datado de 11 de junho, a liberdade de circulação de portadores de passaportes diplomáticos e de serviço russos em todo o Espaço Schengen está facilitando “atividades malignas”.

Apesar de considerarem as expulsões importantes, afirmaram que a ameaça persiste. “Acreditamos que a UE deve seguir estritamente o princípio da reciprocidade e limitar a circulação dos membros das missões diplomáticas russas e de seus familiares apenas ao território do Estado onde estão acreditados”, declararam.

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