Com início de ano violento para civis, guerra da Ucrânia está longe do fim, diz autoridade

Segundo chefe de assuntos políticos da ONU, custo do conflito é 'catastrófico', com ao menos 96 civis mortos somente em 2024

Com mais de dez mil civis mortos, incluindo quase 600 crianças, a guerra da Ucrânia é um evento “catastrófico” cujo final não está à vista. A afirmação é de Rosemary DiCarlo, chefe de assuntos políticos da ONU (Organização das Nações Unidas), que falou ao Conselho de Segurança na quarta-feira (10).

“O novo ano não trouxe trégua à Ucrânia. Pelo contrário, nas últimas semanas, o país tem sofrido alguns dos piores ataques desde o início da guerra ilegal”, disse ela, destacando que 58 civis foram mortos apenas no dia 29 de dezembro, com 96 vitimas fatais registradas a partir dali até o dia 2 de janeiro.

“Durante o período de festas, mísseis e drones russos atingiram vários locais em todo o país”, afirmou a autoridade. “O custo desta guerra sem sentido, em mortes, destruição e desestabilização, já é catastrófico. É assustador imaginar aonde isso pode nos levar. Isso deve parar.”

Soldado faz guarnição no leste da Ucrânia (Foto: WikiCommons)

Desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022, o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) verificou 29.579 vítimas civis. Entre elas, 10.242 pessoas que foram mortas, incluindo 575 crianças. Outras 1.264 crianças ficaram feridas devido aos ataques russos.

As crianças sofrem também com o deslocamento. Dados da ONU apontam que quase dois terços dos jovens ucranianos foram forçados a fugir de suas casas, com cerca de 1,5 milhão correndo o risco de sofrer de estresse pós-traumático e outros problemas de saúde mental.

DiCarlo lembrou ainda que, desde a agressão russa, o Conselho de Segurança se reuniu mais de cem vezes para discutir as “consequências angustiantes” da guerra. “E, no entanto, aqui estamos, à beira do terceiro ano do conflito armado mais grave na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. E sem fim à vista”, afirmou.

Mais números da guerra

Os cidadãos que vivem nas regiões que compõem a linha de frente do conflito suportam o fardo mais pesado das barragens de mísseis, drones e artilharia russas, com quase 70% das vítimas civis registadas nas regiões de Donetsk, Kharkiv, Kherson e Zaporizhzhya.

Os efeitos também têm sido devastadores para a infraestrutura civil ucraniana, de acordo com Edem Wosornu, diretora da divisão de operações e advocacia do gabinete do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha)

Ela afirmou que os ataques russos e as condições meteorológicas extremas deixaram milhões de pessoas, em um número recorde de mil aldeias e cidades em todo o país, sem eletricidade ou água, uma situação especialmente preocupante em meio ao congelante inverno.

Nem os trabalhadores humanitários e suas instalações escapam, problema que se torna especialmente preocupante devido às mais de 14,6 milhões de pessoas, cerca de 40% da população ucraniana, que necessitam de assistência. 

“O aumento dos ataques a instalações de armazenamento de ajuda humanitária nos últimos dois meses elevou o número de incidentes que afetaram negativamente as operações de ajuda humanitária em 2023 para mais de 50, a maioria deles bombardeamentos que atingiram armazéns”, afirmou Wosornu, segundo quem 19 trabalhadores foram mortos entre 2022 e 2023, com outros 35 feridos. 

A diretora destacou outros números estarrecedores, como as toneladas de artigos de ajuda humanitária, incluindo alimentos, materiais de abrigo e suprimentos médicos, destruídas. Além dos 1.435 ataques contra o sistema de saúde, que levaram a 112 de profissionais da área, e das mais de três mil instalações educativas danificadas ou destruídas.

Violência sexual

Segundo Wosornu, a guerra também expôs milhões de ucranianos a um risco aumentado de violência, tráfico e exploração de gênero, com relatos de pessoas com idades entre os quatro e os 80 anos sujeitas a violência sexual relacionada ao conflito.

“Isso me leva a um ponto mais profundo sobre esta guerra. Por baixo das repercussões físicas muito evidentes para a Ucrânia e os ucranianos, esconde-se um impacto muito menos visível, mas não menos prejudicial: sinais de um trauma psicológico profundamente enraizado que poderá afetar milhões de pessoas nos próximos anos”, declarou.

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