Corte do financiamento à Ucrânia daria vitória a Putin, alertam autoridades dos EUA

Governo Biden busca a aprovação de um pacote de assistência militar que englobe tanto Kiev quanto Israel no Congresso. Enquanto isso, Ucrânia faz mais pedidos

Os chefes do Departamento de Estado e do Pentágono deram um aviso enfático aos senadores dos EUA na terça-feira (31): se aprovarem o financiamento militar para Israel, mas decidirem cortar o apoio à Ucrânia, estarão preparando terreno para que o presidente russo Vladimir Putin saia vitorioso da guerra que iniciou em fevereiro do ano passado. As informações são do site Politico.

O alerta veio durante audiência perante o Comitê de Dotações do Senado. Nela, o secretário de Estado, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, expressaram firmemente a necessidade de aval ao pedido suplementar de US$ 106 bilhões do presidente Joe Biden, que engloba ajuda para Tel Aviv, Kiev e a região do Pacífico.

A justificativa de Blinken e Austin é a de que a Rússia poderia triunfar em sua invasão em larga escala em território ucraniano sem o apoio contínuo de Washington, e que isso teria repercussões que vão além da Europa.

O secretário de Defesa Lloyd Austin e o secretário de Estado Antony Blinken prestam depoimento na audiência do Comitê de Dotações do Senado em maio de 2023 (Foto: WikiCommons)

Apesar do apoio de muitos legisladores dos dois grandes partidos a um pacote abrangente, os republicanos da Câmara, que têm dúvidas sobre a assistência adicional à Ucrânia, representam uma ameaça séria ao plano.

Enquanto isso, o presidente da Câmara, Mike Johnson, um republicano, está impulsionando uma proposta exclusiva para Israel, que faria cortes significativos no financiamento do Internal Revenue Service (Departamento da Receita Federal dos EUA, da sigla em inglês IRS), na casa dos bilhões de dólares.

Ele planeja realizar uma votação para uma legislação que disponibiliza US$ 14,3 bilhões em financiamento militar para Israel, atendendo ao pedido de Biden para o país, mas excluindo a Ucrânia, que deixaria de receber US$ 60 bilhões solicitados pelo presidente.

Essa medida não é bem recebida no Senado e é provável que enfrente a oposição de muitos democratas na Câmara.

Ao fragmentar o apoio a Israel, Johnson sustenta que a prioridade imediata é lidar com o Hamas após os ataques de 7 de outubro, que ficaram conhecidos como o “11 de setembro israelense“. No entanto, figuras importantes do Senado, como o líder da maioria, Chuck Schumer, e o líder da minoria, Mitch McConnell, argumentam que os legisladores deveriam aprovar a assistência para ambos os países no mesmo pacote.

Puxada de tapete

Austin, ao ser indagado sobre o tempo que levaria para a Rússia prevalecer caso os EUA retirassem o apoio à Ucrânia, disse que estabelecer um prazo preciso é desafiador, repercutiu o site The Hill. Porém, observou que, sem o apoio de Washington, “Putin terá sucesso”. E completou: “Se puxarmos o tapete [da Ucrânia] agora, Putin só ficará mais forte.” 

Por sua vez, Blinken enfatizou que deixar a Ucrânia desamparada “causaria danos significativos não apenas aos nossos valores, mas também a nossos interesses essenciais.”

“Não tenho dúvidas de que, se Putin puder continuar agindo impunemente, ele não só não parará na Ucrânia como poderá ir para um país da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em seguida. Isso enviará uma mensagem aos possíveis agressores em todo o mundo: ‘Se ele pode se safar, nós também podemos’. E é provável que tenhamos um mundo cheio de conflitos”, disse Blinken.

Kiev pede mais armas e treinamento

Enquanto o apoio de Washington à guerra na Ucrânia começa a vacilar diante de desafios que envolvem uma nova liderança na Câmara e uma crise no Oriente Médio que desviou a atenção de Kiev, autoridades ucranianas e aliados europeus estão ampliando seus esforços de lobby nos Estados Unidos, buscando apoio para armamentos e treinamento adicionais, segundo o Politico.

No episódio mais recente, uma delegação composta por oficiais, tropas e conselheiros ucranianos visitou a capital dos Estados Unidos na semana passada, apresentando as prioridades de Kiev.

A lista inclui:

  • Treinamento com o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA em operações de desembarque;
  • Aquisição de novos sistemas de defesa aérea para combater as bombas planadoras russas que causaram sérios danos às forças ucranianas;
  • Recebimento da versão de longo alcance e ogiva única do Sistema de Mísseis Táticos do Exército dos Estados Unidos, enviado secretamente pelo governo Biden para a Ucrânia no mês passado.

Na terça-feira, o Pentágono informou que possui cerca de US$ 5,4 bilhões de autorização de gastos presidenciais restantes para auxílio militar à Ucrânia. Biden solicitou ao Congresso um adicional de US$ 60 bilhões para Kiev como parte de uma ampla proposta de financiamento de emergência, que também abrange assistência a Israel.

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