Da prisão, Navalny inicia campanha presidencial contra a guerra

“Esta é uma campanha eleitoral contra os candidatos chamados 'Guerra' e Putin”, disse o líder da oposição em um comunicado publicado online

O ativista de oposição Alexei Navalny, principal adversário do presidente Vladimir Putin e que está preso desde 2020, anunciou na segunda-feira (19) o lançamento de uma campanha presidencial online, descrita por ele como “longa, implacável e exaustiva” e focada em contestar a guerra iniciada por Moscou na Ucrânia. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Apesar de sua rede política de base ter sido rotulada como “extremista“, sendo consequentemente banida na Rússia, Navalny está determinado a utilizar estratégias de mensagens direcionadas para conquistar o apoio também de russos pró-guerra ou em posição de neutralidade.

Alexei Navalny, oposicionista do presidente Vladimir Putin (Foto: reprodução/Instagram)

Em uma postagem divulgada por meio de seus associados em seu site na segunda-feira (19), Navalny declarou: “Vamos mudar a opinião de muitas pessoas. Vamos semear dúvidas na mente de quase todos.” E deixou claro que a campanha eleitoral será feita contra os candidatos identificados como “pró-guerra” e contra o próprio Putin.

É esperado que o presidente Putin, atualmente com 70 anos, anuncie sua candidatura para a reeleição nas eleições presidenciais de março de 2024. Por sua vez, Navalny, 47, foi impedido de concorrer à presidência na corrida de 2018, quando o chefe do Kremlin foi eleito para o seu quinto mandato, e isso não deve mudar agora.

Atualmente, o preso político está enfrentando um julgamento por acusações de “extremismo”, que podem resultar em uma sentença adicional de até 30 anos de prisão, somando-se aos mais de 11 anos que ele já está cumprindo.

Em seu anúncio, Navalny convocou engenheiros de software, sociólogos e cientistas políticos a oferecerem para que contribuam, desenvolvendo uma estratégia “criativa” e “adaptável” visando à comunicação com os eleitores russos.

Contra a “corrupção e estupidez”

Navalny reconheceu os riscos potenciais de enfrentar processos criminais devido à sua participação na campanha, deixando claro que suas atividades serão rotuladas como ilegais e subversivas. E disse estar ciente de que enfrentará uma oposição intensa, mas prometeu luta contra “a máquina de guerra, a corrupção e a estupidez”.

O anúncio foi feito em meio ao tribunal de Moscou, que decidiu realizar o último julgamento do crítico do Kremlin, acusado de “extremismo”, a portas fechadas.

Os aliados de Navalny alegam que as autoridades russas estão tentando ocultar o julgamento devido à ausência de evidências substanciais contra ele.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril de 2021, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Nos meses seguintes, novas acusações surgiram contra o rival de Putin. Em janeiro de 2022, ele foi incluído na lista de “terroristas e extremistas” do Serviço Federal de Monitoramento Financeiro da Rússia. No dia 22 de março do ano passado, foi julgado por peculato e desacato, com o tempo de detenção ampliado para 11 anos e meio.

Mais recentemente, em abril de 2022, novas acusações de “terrorismo” foram apresentadas contra ele pela Justiça da Rússia, o que pode levar a uma sentença de prisão perpétua em caso de condenação.

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