Desespero sírio aumenta diante da perda de familiares após tragédia de barco na Grécia

Famílias foram destroçadas depois que uma traineira de pesca lotada afundou na costa grega semana passada

Quase dez dias após o naufrágio de um barco superlotado na costa oeste da Grécia, surgiram informações sobre as vítimas. O desastre marítimo é o mais mortífero na costa grega até agora este ano. As informações são da agência Al Jazeera.

A bordo da embarcação que arriscava a travessia do Mediterrâneo estavam entre 400 e 750 pessoas, a maioria paquistaneses. Além deles, dezenas de egípcios, sírios e palestinos arriscaram suas vidas em busca de uma oportunidade de chegar à Europa, partindo da Líbia em uma traineira pesqueira.

Um pai sírio em busca de tratamento para o câncer de seu filho está entre os desaparecidos. Thaer al-Rahal, um homem de 39 anos da cidade de Inkhil, na província de Daraa, residia no extenso campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia.

“Thaer não estava interessado em viajar para a Europa e sempre sonhou em retornar à sua cidade natal. No entanto, a busca por uma cura para o câncer de seu filho o levou a arriscar-se no perigoso mar”, declarou à reportagem seu primo, Abdul Rahman al-Rahal.

Refugiados em um barco cruzando o mar Mediterrâneo, indo da costa turca para o nordeste da Grécia, janeiro de 2016 (Foto: WikiCommons)

Na madrugada de 14 de junho, a embarcação virou no mar Jônico. Até o momento, foram confirmados pelo menos 82 óbitos, enquanto apenas 104 sobreviventes foram resgatados. O destino de centenas de pessoas ainda permanece desconhecido. A maioria dos passageiros do barco eram homens.

Relatórios indicam que é provável que nenhuma mulher ou criança tenha sobrevivido, pois foram mantidas abaixo do convés, possivelmente numa tentativa de protegê-las das adversidades climáticas.

Na terça-feira (13), a  Organização Internacional para as Migrações (OIM) divulgou números mostrando que quase 3,8 mil pessoas morreram em rotas de migração dentro e fora do Oriente Médio e Norte da África no ano passado, o número mais alto desde 2017, quando foram registradas 4.255 mortes.

No primeiro trimestre deste ano, 441 migrantes morreram no Mediterrâneo central. E, desde 2014, mais de 26 mil pessoas morreram ou desapareceram em todas as rotas combinadas.

Família dilacerada

A família de Ahmad Yousef al-Nayef, de 50 anos, residente em Tadif, uma região rural de Aleppo, no leste da Síria, também foi afetada pela tragédia.

Pai de sete filhos, quatro meninos e três meninas, Ahmad trabalhava como diarista.

“Ele buscava uma vida melhor para seus filhos, mas nossas condições de vida pioraram nos últimos 10 anos. Fomos obrigados a deixar nossa casa e nos mudar para diversos lugares antes de nos estabelecermos em uma área que é considerada a linha de frente entre o regime governamental sírio e a oposição em Tadif”, relatou sua esposa, Ayoush al-Hassan.

Vivendo em um apartamento de um único cômodo com vazamentos no teto e todos os filhos amontoados, al-Nayef decidiu viajar para a Líbia há três meses. Seu objetivo era chegar à Europa e encontrar um emprego que proporcionasse “uma boa renda e uma vida melhor para a família”, como afirmou sua esposa.

“Ele era extremamente afetuoso e atencioso. Sempre que terminava seu trabalho, fazia questão de voltar imediatamente para casa para estar com a família.”

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