Em busca de soldados, Rússia oferece cidadania expressa a estrangeiros dispostos a lutar

Moscou corta exigências burocráticas e permite que migrantes vivam na Rússia definitivamente se lutarem na Ucrânia por seis meses

A Rússia segue buscando novas formas de ampliar o efetivo de suas Forças Armadas para a guerra da Ucrânia, que não tem um final no horizonte. Na quinta-feira (4), o presidente Vladimir Putin assinou um decreto que acelera o processo de concessão de cidadania a estrangeiros dispostos a lutar por ao menos seis meses. As informações são da agência Associated Press (AP).

Os principais alvos da medida tendem a ser migrantes de países da Ásia Central, que habitualmente têm a Rússia como destino. A mudança na legislação facilitará o processo de cidadania, ao passo que também preencherá a lacuna de combatentes que compromete a atuação militar do país na Ucrânia.

Membros das forças armadas da Rússia (Foto: Reprodução/Facebook)

Moscou já havia implementado processo semelhante em setembro de 2022, quando realizou uma mobilização militar parcial que recrutou 300 mil novos soldados para o Exército. Agora, a obtenção simplificada de cidadania foi formalizada e se tornará permanente, com regras ainda mais flexíveis.

Conforme a norma anterior, os estrangeiros assinavam contrato de um ano e se comprometiam a ir ao campo de batalhas por um prazo não inferior a seis meses. Em troca, asseguravam a cidadania russa mesmo sem proficiência no idioma ou sem terrem vivido no país por ao menos cinco anos, como determina a lei de imigração. Os direitos são estendidos a cônjuges e filhos.

O que muda no novo decreto em relação aos procedimentos prévios é que a decisão do governo quanto à concessão ou não de cidadania precisa sair em no máximo um mês, ante ao prazo de 90 dias anterior.

Estrangeiros perseguidos

Migrantes estão na mira do Kremlin desde o início da guerra. No ano passado surgiram relatos de que autoridades russas vinham perseguindo detentores de cidadania e forçando-os a se alistar nas Forças Armadas. Os que se recusavam a aceitar a ordem eram ameaçados de expulsão.

As vítimas preferenciais eram justamente cidadãos de países da Ásia Central. Para manter ou obter a cidadania, homens nascidos em países como Cazaquistão e Tadjiquistão vinham sendo forçados a assinar contrato com o Ministério da Defesa para ir à guerra. O governo aumentava a pressão ao ameaçar punir inclusive os familiares.

Mias recentemente, o jornal independente Novaya Gazeta relatou uma grande operação para capturar migrantes durante as festas de Ano Novo, com cerca de três mil pessoas detidas pelas forças de segurança. Uma fonte cuja identidade foi preservada disse que o objetivo era justamente encontrar novos soldados.

O recrutamento, voluntário ou obrigatório, coloca os migrantes contra a parede. Os que não cedem à pressão são perseguidos na Rússia e podem acabar expulsos, sendo que muitos vivem no país há anos. Caso aceitem colocar a própria vida em risco no campo de batalhas, podem ser punidos em seus países de origem, onde há leis que os proíbem de participar de atividades militares no exterior.

Dados do Ministério do Interior russo indicam que há no país cerca de 10,5 milhões de pessoas provenientes de países como Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão. Muitos, inclusive, foram alvo da mobilização de Putin que adicionou cerca de 300 mil novos combatentes às fileiras do Exército na Ucrânia em 2022. Os que conseguiram escapar estão agora na mira.

Escassez de combatentes

Embora o Kremlin não admita oficialmente, são as elevadas baixas no campo de batalhas que forçam o país a buscar novas formas de recrutamento. No dia 1º de dezembro de 2023, Putin ordenou que o contingente militar do país fosse ampliado em 170 mil combatentes, de acordo com a AP.

Decreto assinado pelo presidente na ocasião diz que a Rússia deve ampliar o número de militares ativos para 2,2 milhões, sendo 1,32 milhão de soldados.

E mesmo essa ampliação pode ser insuficiente, considerando que em dezembro de 2022 o ministro da Defesa Sergei Shoigu sugeriu que seria necessário atingir 1,5 milhão de soldados para as tropas russas manterem a efetividade.

Para alcançar suas metas, o Ministério da Defesa alegou, segundo a AP, que não haverá uma “expansão significativa da mobilização” e que o aumento do afetivo acontecerá gradualmente com a adição de voluntários. Uma justificativa questionável, vez que o recrutamento voluntário segue aberto e não vem sendo capaz de suprir as necessidades.

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