Espião russo que se dizia brasileiro está na lista de prisioneiros entregues pelos EUA a Moscou

Mikhail Mikushin usava identidade brasileira ao ser preso na Noruega em 2022. Agora ele retorna a Moscou em um acordo histórico

Estados Unidos e Rússia anunciaram na quinta-feira (1º) uma das maiores trocas de prisioneiros desde a Guerra Fria, um acordo que envolveu outros quatro países. Moscou libertou 16 pessoas, sendo quatro com nacionalidade norte-americana, e recebeu de volta oito indivíduos. De acordo com o site The Insider, um dos russos devolvidos a seu governo é Mikhail Mikushin, um coronel do GRU, o serviço de inteligência militar de Moscou, que foi preso quando se passava por cidadão brasileiro.

Mikushin foi detido pelo Serviço de Segurança da Polícia Norueguesa (PST, na sigla em norueguês) em outubro de 2022, em Tromso, no norte do país escandinavo. Na ocasião, ele usava documentos brasileiros para encobrir a verdadeira identidade. Dizia ser José Assis Giammaria, um pesquisador autofinanciado em um projeto de segurança conduzido por uma universidade local.

Espiões russos são um desafio de segurança para o Ocidente (Foto: Craig Whitehead/Unsplash)

“Solicitamos que um pesquisador brasileiro da Universidade de Tromso seja expulso da Noruega porque acreditamos que ele representa uma ameaça aos interesses nacionais fundamentais”, disse à época Hedvig Moe, vice-chefe do PST.

Antes de chegar à Noruega, o espião russo igualmente se fez passar por José Assis para estudar no Canadá, onde se formou em ciências politicas em 2016 e em estudos estratégicos três anos depois.

Após a prisão, conforme as autoridades norueguesas buscavam associar Mikushin ao governo russo, o site investigativo Bellingcat o identificou como coronel do GRU. É o mesmo serviço de inteligência para o qual trabalha Sergey Vladimirovich Cherkasov, outro espião russo que usava falsa identidade brasileira e atualmente cumpre pena em Brasília.

De acordo com o PST, sob o disfarce de José Assis, Mikushin conseguiu enganar o governo norueguês durante um período e é possível que tenha “adquirido informações sobre a política do país escandinavo na região norte”. Oslo considera a situação temerária, devido ao risco de que dados confidenciais tenham chegado às mãos do Kremlin.

Mesmo desmascarado pelo governo norueguês, Mikushin custou a admitir sua verdadeira identidade. Insistiu durante cerca de dois meses que era realmente um pesquisador brasileiro, até romper o disfarce em dezembro de 2022, conforme relatou na ocasião a agência Associated Press (AP).

A troca de prisioneiros

Além de Mikushin, outras sete pessoas foram entregues a Moscou pelo governo norte-americano na troca. A Alemanha aceitou colaborar e atendeu à principal demanda do Kremlin, libertando o assassino russo condenado Vadim Krasikov.

Do lado norte-americano, os nomes mais conhecidos são o repórter do The Wall Street Journal Evan Gershkovich, o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, o jornalista russo Vladimir Kara-Murza, crítico feroz do presidente Vladimir Putin e da guerra da Ucrânia, e a jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva.

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