O ex-soldado britânico Daniel Khalife, de 23 anos, foi condenado por espionagem em favor do Irã após um julgamento que detalhou sua fuga da Prisão de Wandsworth, em Londres, e seu envolvimento com espiões iranianos. Khalife, que era cabo no Royal Signals, uma das unidades mais antigas e importantes do Exército Britânico, escapou da prisão em 6 de setembro de 2023 usando uma tipoia feita de calças de detentos e se agarrando à parte inferior de um caminhão de entrega de comida. Segundo ele, a atuação como agente iraniano foi inspirada na série de TV Homeland. As informações são da Associated Press.
Na época da fuga, ele estava preso sob acusações de fornecer informações confidenciais a espiões iranianos, incluindo dados sobre soldados britânicos, alguns dos quais pertenciam ao Serviço Aéreo Especial (SAS, da sigla em inglês). As informações transmitidas teriam sido de interesse para Teerã, o que levou a uma operação de busca por parte do MI5 (Serviço de Segurança do Reino Unido), do Ministério da Defesa e da polícia antiterrorismo.
Khalife foi capturado em 9 de setembro de 2023, após ser visto praticando mountain bike em Northolt, no oeste de Londres, cerca de 22,5 km da prisão. Durante o período em que esteve foragido, ele manteve contato com seus agentes através de um telefone celular e enviou mensagens codificadas.
Em seu julgamento, Khalife se declarou inicialmente inocente das acusações de fuga, mas mudou sua defesa, explicando aos jurados como havia planejado sua escapada. Durante o processo, ele afirmou que seu envolvimento com agentes iranianos começou quando tinha 16 anos, após ingressar no Exército. Ele alegou que sua intenção era se tornar um “agente duplo”, mas admitiu que as informações fornecidas aos espiões eram “em grande parte falsas ou irrelevantes”. Khalife declarou que concebeu a ideia ao assistir ao programa de TV Homeland.
O tribunal também considerou Khalife culpado por coletar e comunicar informações que poderiam ser úteis a um inimigo, entre 2019 e 2022, conforme a Lei de Segredos Oficiais. Além disso, ele foi condenado por obter uma lista manuscrita com informações pessoais de militares britânicos, incluindo membros das forças especiais, que poderiam ser usadas em atos de terrorismo.
Khalife foi, no entanto, considerado inocente da acusação de ter fabricado uma farsa de bomba em seu quartel em janeiro de 2023. O caso gerou discussões sobre a segurança nas prisões de alta segurança e a possibilidade de infiltração de agentes estrangeiros nas forças armadas britânicas.
Khalife: o “Walter Mitty” que impactou a Segurança Nacional
Dominic Murphy, chefe do comando antiterrorismo da Polícia Metropolitana, descreveu Khalife como um “Walter Mitty por excelência”, referindo-se à sua abordagem “amadora” e fantasiosa, fazendo menção ao filme ‘A Vida Secreta de Walter Mitty’, que fala de um homem comum que escapa de sua rotina monótona através de fantasias vívidas e aventuras imaginárias.
No entanto, Murphy alertou que, apesar de sua falta de sofisticação, o indivíduo realmente forneceu informações “altamente confidenciais” ao Irã, segundo a rede Sky News. Em uma operação que resultou na interrupção de 20 conspirações diretas, Murphy ressaltou que as ações de Khalife e o envolvimento do estado iraniano representam uma ameaça “muito real” à segurança nacional e à vida de cidadãos britânicos.