Ex-presidente russo fala em bombardear Haia após emissão de mandado de prisão contra Putin

Dmitry Medvedev afirma que eventual ataque não teria resposta da Otan: "Então, juízes do tribunal, olhem atentamente para o céu"

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, que nos últimos meses tornou-se um especialista em fazer ameaças exageradas contra o Ocidente, sugeriu nesta segunda-feira (20) que a Rússia poderia bombardear o Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, como resposta ao mandado de prisão emitido contra o presidente Vladimir Putin. As informações são da revista Newsweek.

“Infelizmente, senhores, todos caminham sob Deus e foguetes. É bem possível imaginar o uso direcionado de um ‘Ônix’ hipersônico de um navio russo no Mar do Norte contra o tribunal de Haia”, disse Medvedev em seu canal do aplicativo de mensagens Telegram, referindo-se a um míssil naval de cruzeiro russo.

Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia (Foto: Wikimedia Commons)

A declaração de Medvedev, hoje aliado de Putin, surge após a decisão da corte internacional de transformar o líder russo em um criminoso procurado internacionalmente.

O mandado emitido na última sexta-feira (17) acusa o presidente de crimes de guerra por conta da transferência ilegal de crianças de áreas ucranianas ocupadas para o território russo. Entretanto, ele está legalmente protegido, sem a perspectiva imediata de que seja preso, porque o país que comanda não e membro do tribunal.

Ao ameaçar o TPI com um ataque aéreo, Medvedev disse ainda que não haveria maiores consequências para a Rússia se tal medida fosse colocada em prática.

“O tribunal é apenas uma organização internacional miserável, não a população de um país da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”, afirmou, ignorando o fato de que a corte fica na Holanda, que é membro da aliança. “É por isso que eles não vão começar uma guerra. Eles vão ter medo. E ninguém vai sentir pena deles. Então, juízes do tribunal, olhem atentamente para o céu”.

Medvedev que já se apresentou como um “modernizador liberal”, ocupa atualmente o cargo de vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e tem sido um dos principais porta-vozes do Kremlin em meio à guerra da Ucrânia.

As declarações recentes dele, quase sempre feitas através do Telegram e endereçadas sobretudo a seguidores fieis de Putin, têm sido carregadas de ameaças desvairadas, sob o discurso de que Kiev é um Estado “nazista” e liderado por “fanáticos” e de que o Ocidente teme o poderio militar russo.

A própria Otan já havia sido alvo de tais comentários. Em novembro do ano passado, ele disse que a aliança militar “se tornaria imediatamente um alvo legítimo de nossas forças armadas” caso viesse a fornecer à Ucrânia o sistema de defesa antiaérea norte-americana Patriot.

Na ocasião, ainda pregou o fim da Otan: “O mundo civilizado não precisa dessa organização. Deve se arrepender perante a humanidade e ser dissolvida como uma entidade criminosa”.

No mês seguinte, o ex-presidente voltou a se manifestar em tom ameaçador ao citar o arsenal nuclear de Moscou. “A única coisa que detém nossos inimigos hoje é o entendimento de que a Rússia será guiada pelos fundamentos da política de Estado. Pela dissuasão nuclear. E, no caso de surgir uma ameaça real, ela agirá sobre eles”.

Quanto às punições impostas pelo Ocidente à Rússia, Medvedev chegou a comparar a situação ao histórico militar norte-americano. “Toda a história dos EUA, desde os tempos de subjugação da população nativa, representa uma série de guerras sangrentas”, disse ele em julho de 2022, citando os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã.

“Alguém foi responsabilizado por esses crimes? Que tribunal condenou o mar de sangue derramado pelos EUA lá?”, questionou o russo, acrescentando mais uma bravata à extensa lista: “A ideia de punir um país que tem um dos maiores potenciais nucleares é absurda”.

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