Ex-rabino-chefe de Moscou diz que situação é ‘preocupante’ para os judeus na Rússia

Pinchas Goldschmidt buscou refúgio em Israel em março, após se recusar a apoiar publicamente a invasão russa à Ucrânia

Pinchas Goldschmidt, ex-rabino-chefe de Moscou, que em março fugiu da Rússia rumo a Israel, alertou na quinta-feira (28) para a presença de “nuvens escuras no horizonte”, referindo-se à situação que ele chamou de “preocupante” para os judeus sob o governo de Vladimir Putin. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Segundo ele, “a comunidade judaica foi pressionada a apoiar abertamente a guerra” na Ucrânia, mas não o fez. Por isso, “a situação é preocupante” e há “muitas nuvens negras no horizonte”, disse ele, acrescentando que “a segurança e o futuro” dos judeus “dependem das relações entre Israel e Rússia”.

Pinchas Goldschmidt, ex-rabino chefe de Moscou (Foto: Wikimedia Commons)

A posição de Israel quanto à guerra era de pretensa neutralidade com Naftali Bennett como primeiro-ministro. No entanto, a situação mudou sob o governo de Yair Lapid. Em abril, ainda como ministro das Relações Exteriores, o agora premiê acusou Moscou de consumar crimes de guerra e condenou o que chamou de “visões terríveis em Bucha”.

Essa teria sido uma das razões de Moscou para solicitar o fechamento da filial russa da Sohnut, a Agência Judaica para Israel, uma organização sem fins lucrativos que processa a imigração de judeus de todo mundo para Israel.

Moscou alega que o caso não deve ser politizado e que a ação tem caráter meramente legal. Na semana passada, quando a Justiça russa pediu o fechamento da agência, um alto funcionário da diplomacia israelense disse que a Sohnut foi acusada de “coletar ilegalmente informações sobre cidadãos russos”.

Em resposta, o gabinete de Lapid emitiu um comunicado e pediu “diplomacia” para solucionar o impasse. “A comunidade judaica na Rússia está profundamente ligada a Israel”, disse a nota. “Sua importância surge em cada discussão diplomática com a liderança russa. Continuaremos a agir por meio dos canais diplomáticos para que a importante atividade da Agência Judaica não cesse”.

Goldschmidt, por sua vez, diz que o movimento de Moscou contra a agência fomenta o “medo do aumento do antissemitismo” e leva os judeus a fugir do país. “Se a  Rússia quer parar a fuga de cérebros de seus melhores cientistas e classe criativa, a melhor maneira de fazer isso não é fechar a Agência Judaica, mas parar esta guerra”, disse ele. 

Segundo o líder religioso, 30 mil portadores de passaporte duplo trocaram a Rússia por Israel desde o dia 24 de fevereiro, quando o conflito começou. Ele cita como outro motivo o temor de que seja instituída uma nova “Cortina de Ferro”, que no futuro tornaria impossível a saída de cidadãos russos de seu país, como nos tempos da antiga União Soviética.

A filial da Sohnut na Rússia funciona desde 1989 e diz ter ajudado 16 mil judeus russos a se mudarem para Israel desde a invasão à Ucrânia. O fechamento ou não da agência será decidido em uma audiência no dia 19 de agosto.

Em meio a essa situação, Goldschmidt diz que não pretende voltar à Rússia agora. “Se eu tivesse [permanecido como] rabino-chefe de Moscou, não seria capaz de falar abertamente sem pôr em perigo a minha comunidade”, disse ele. “Decidi ficar no exílio até que a situação política mude”.

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