Na Suécia, homem queima o Alcorão do lado de fora da mesquita durante feriado muçulmano

Apesar das críticas anteriores, Estocolmo permitiu mais um ato do gênero, o que provavelmente não beneficiará sua candidatura à Otan diante da oposição da Turquia

Nesta quarta-feira (28), um homem queimou um exemplar do Alcorão do lado de fora da mesquita central de Estocolmo, na Suécia, após receber permissão de um tribunal local. O responsável pela ação foi um refugiado iraquiano de 30 anos que deseja o banimento do livro sagrado. Ele arrancou páginas do livro sagrado, limpou o sapato com elas e ateou fogo em algumas outras. As informações são da rede alemã Deutsche Welle.

A emissora pública sueca SVT relatou o ocorrido. Cerca de 200 pessoas, incluindo manifestantes contrários ao ato, estavam presentes para testemunhar o evento. Durante a ação, um homem foi detido após tentar atirar uma pedra.

O autor da manifestação foi Salwan Momika, um refugiado iraquiano de 37 anos que vive na Suécia há vários anos. Ele solicitou autorização à polícia para realizar a queima do Alcorão, com o objetivo de “expressar sua opinião” sobre o livro sagrado muçulmano.

Na crença islâmica, o Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos que contém revelações que Alá transmitiu a Maomé (Foto: WikiCommons)

Na Suécia, a queima do Alcorão se tornou um ato recorrente entre membros da extrema direita, sendo associada ao político dinamarquês-sueco radical Rasmus Paludan, que ateou fogo no livro sagrado do Islã do lado de fora da embaixada turca na capital do país em janeiro e gerou um mal-estar diplomático. No entanto, Paludan não estava envolvido na ação ocorrida na quarta-feira.

Ao contrário de outros países, a Suécia geralmente permite protestos, mesmo aqueles que podem ser considerados provocativos.

Entretanto, o gesto pode prejudicar ainda mais as pretensões suecas de ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), já que a Turquia, que está atrasando a candidatura pendente, criticou a ação. Já o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, classificou o ato como “desprezível”.

Para aprovar a Suécia na Otan, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan exige que Estocolmo adote uma postura mais clara sobre o que Ancara considera “terrorismo”, referindo-se à tolerância sueca com indivíduos acusados de serem militantes de milícias curdas.

Neste mês, de olho na vaga, a Suécia fez novo aceno à Turquia e levou um membro do PKK à Justiça. Agora, os principais diplomatas dos países se reunirão em 6 de julho na sede da Otan, em Bruxelas, onde a organização pressiona a Turquia para que autorize a aprovação dos escandinavos. Essa autorização é esperada antes de uma cúpula que será realizada na Lituânia nos dias 11 e 12 de julho.

Otimismo, apesar de tudo

Apesar das contínuas objeções da Turquia e dos episódios frequentes de queima de Alcorões, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, mantém sua convicção de que a Suécia poderá ingressar na aliança militar.

Durante uma entrevista à SVT, ele afirmou: “A Suécia se tornará um membro da Otan”, embora admitindo que isso pode não acontecer durante a próxima grande cúpula da organização em Vilnius.

Kristersson também destacou o respeito pela autonomia das decisões turcas, afirmando que é positivo ter outra reunião para discutir esse assunto antes da cúpula de Vilnius.

Quando questionado sobre a queima do Alcorão nesta quarta, o primeiro-ministro preferiu não especular sobre como isso afetaria as perspectivas da Suécia na Otan.

Ele acrescentou: “Embora seja uma ação legal, não é apropriada”.

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