Hacktivistas reivindicam ciberataque a ferrovia de Belarus para atrapalhar tropas russas

Oposicionistas exigem a liberdade de presos políticos, a retirada de militares e impedir que cidadãos belarussos "morram por uma guerra sem sentido"

Ciberativistas que visam à derrubada do presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, tomaram partido na aproximação militar entre Minsk e Moscou e anunciaram que invadiram o sistema de computadores da rede ferroviária estatal belarussa. Eles ameaçam interromper os trens que levam tropas e artilharia da Rússia para o país aliado com vistas a uma invasão à Ucrânia, segundo o jornal britânico The Guardian.

De acordo com um integrante do coletivo hacktivista local Cyber ​​Partisans, que coordenou o ciberataque, o objetivo dos oposicionistas é reivindicar a liberdade de presos políticos, a retirada de militares russos da ex-república soviética e impedir que cidadãos belarussos “morram por uma guerra sem sentido”.

Um outro membro dos Cyber Partisans disse que o grupo já teria criptografado ou destruído bancos de dados internos que as ferrovias belarussas utilizam para controlar o tráfego, alfândega e estações. Segundo ele, tal ação pode impactar em atrasos nos trens comerciais e não comerciais, além de “afetar indiretamente a Rússia e seu movimento de tropas”.

Tanques russos na estação ferroviária de Palonka, Belarus (Foto: Twitter/Reprodução)

O grupo declarou que devolveria o controle dos computadores da rede ferroviária na condição de que Lukashenko impeça a entrada das tropas russas em território nacional e liberte 50 presos políticos que estariam necessitando de cuidados médicos.

Na semana passada, o autoritário líder anunciou que seu país e a Rússia realizarão exercícios militares conjuntos perto das fronteiras com a Ucrânia e com Estados-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). As manobras, batizadas Allied Resolve (Determinação Aliada, em tradução livre), estão agendadas para fevereiro.

Os Cyber Partisans, um coletivo de cerca de 25 especialistas anônimos em TI (tecnologia da informação) e outros ativistas que definem suas ações como “hacking ético”, têm sido uma pedra no sapato de Lukashenko nos últimos anos, mas precisamente desde os protestos de 2020 após as contestadas eleições presidenciais.

Eles já haviam invadido os servidores do Ministério do Interior de Belarus, expondo dados sobre a polícia secreta (KGB), listas de supostos informantes da polícia, informações pessoais sobre altos funcionários do governo e espiões, além de imagens de vídeo coletadas por drones policiais em centros de detenção e gravações secretas de telefonemas de um sistema de escutas telefônicas do governo.

Nos últimos tempos, os hacktivistas buscaram expandir seus ataques de modo a atingir empresas estatais e empresas que servem como fontes de dinheiro para Lukashenko. Eles coordenam ataques de ransomware que exigem a libertação de pessoas detidas por motivações políticas em vez de dinheiro.

Em novembro, a Suprema Corte de Belarus classificou os ciberativistas como terroristas, criminalizando o “recrutamento, assistência e participação” no grupo, segundo a procuradoria-geral do país.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin.

Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam a Ucrânia pela Crimeia e por Belarus, com potencialmente cem mil soldados. A Ucrânia estima um contingente de 90 mil soldados de Moscou prontos para atacar, enquanto a inteligência norte-americana fala em 50 mil.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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