Investigação confirma mais de 70 mil russos mortos na Ucrânia, principalmente voluntários

Cidadãos que se ofereceram para lutar são maioria entre os óbitos registrados, superando os criminosos perdoados em troca de serviço militar

Ao menos 70.112 soldados russos morreram até agora na guerra da Ucrânia, iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. É o que aponta um levantamento feito em parceria pela rede BBC e o site investigativo Mediazona, que considera apenas casos em que é possível identificar os combatentes pelo nome.

Em seu levantamento, os investigadores usam informações publicamente disponíveis, como documentos oficiais, manifestações de familiares em redes sociais e publicações da imprensa regional para atestar a morte.

Devido ao critério rígido, os números representam apenas uma parcela dos militares russos que de fato perderam a vida no conflito, vez que não entram na lista casos que carecem de alguma confirmação. Assim, os investigadores dizem que “o número real de mortes russas provavelmente será muito maior.”

Cerimônia das Forças Armadas da Rússia em homenagem a militares mortos (Foto: Facebook/mod.mil.rus)

Membros de milícias apoiadas pelo governo russo nas repúblicas de Donetsk e Luhansk, que declararam independência da Ucrânia em 2014, também não têm seus nomes incluídos no balanço, mesmo que as mortes sejam confirmadas e que eles tenham seus nomes checados.

Na atualização mais recente, pela primeira vez, indivíduos que se voluntariaram para ir à guerra representam a maior parcela entre os mortos.

O balanço divide os soldados mortos em cinco categorias: membros de companhias militares privadas, como o Wagner Group; criminosos libertados para ir à guerra; soldados que se voluntariaram para lutar; cidadãos russos recrutados pelo Estado e soldados profissionais. Há casos em que, embora a morte tenha sido confirmada, não foi possível determinar imediatamente em qual grupo o combatente se enquadra.

Entre os mortos confirmados, 13.781 foram à guerra como voluntários, o que representa cerca de 20% do total. Até então, a maior parcela era de presos que tiveram seus crimes perdoados em troca de serviço militar, que agora representam menos de 19% dos óbitos. Já os russos forçados a lutar na mobilização anunciada pelo presidente Vladimir Putin em setembro de 2022 são agora 13% das vítimas.

O levantamento ajuda a preencher uma lacuna de informação na guerra, vez que Rússia e Ucrânia não divulgam números oficiais de mortos.

Do lado ucraniano, o presidente Volodymyr Zelensky disse em fevereiro que até ali suas Forças Armadas haviam perdido 31 mil combatentes. Em abril deste ano, entretanto, a BBC refutou os números e citou como base um levantamento dos EUA segundo o qual 70 mil soldados ucranianos haviam sido mortos até agosto de 2023.

Em busca de novos soldados

Embora os governos não citem números confiáveis, as baixas na guerra são elevadas a ponto de os dois países adotarem medidas emergenciais para repor as perdas. Do lado russo, Putin assinou no início da semana um decreto que determina a adição de 180 mil novos combatentes às Forças Armadas do país, elevando o efetivo para 1,5 milhão. A determinação passará a valer em dezembro.

Outra medida que expõe o tamanho do problema foi anunciada em julho: a oferta de um atraente prêmio financeiro aos cidadãos de Moscou dispostos a combater.

O governo da capital russa prometeu um bônus único de 1,9 milhão de rublos (R$ 111 mil em valores atuais) aos moscovitas que assinarem contrato com as Forças Armadas. Com os acréscimos previstos em lei, como salários e auxílios regionais, a quantia recebida por cada soldado pode chegar a 5,2 milhões de rublos (R$ 304 mil) no primeiro ano de serviço, segundo o jornal The Telegraph.

Kiev, por sua vez, aprovou em maio um projeto de lei que permite às Forças Armadas convocar criminosos condenados para lutar. Um processo semelhante ao do Kremlin, embora na Rússia a medida permitia que quase todos os criminosos fossem libertados em troca do serviço militar.

Na Ucrânia há regras um pouco mais rígidas e não estão autorizados aqueles que foram sentenciados por crimes como homicídio doloso contra duas ou mais pessoas, violência sexual e crimes contra a segurança nacional.

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