Rússia terá problemas com criminosos perdoados após serviço militar, diz Reino Unido

Wagner Group está pronto para cumprir a promessa de conceder o perdão aos infratores que serviram na Ucrânia

O Wagner Group se prepara para reinserir na sociedade russa milhares de criminosos condenados, muitos delas por crimes violentos, que tiveram suas sentenças perdoadas antes do tempo depois de servirem à organização paramilitar privada na guerra da Ucrânia. E isso tende a ser um problema para a Rússia, de acordo com balanço divulgado na terça-feira (21) pelo Ministério da Defesa do Reino Unido.

“Nas próximas semanas, milhares de condenados russos que lutaram pelo Wagner Group provavelmente serão perdoados e libertados”, diz o boletim divulgado pelos britânicos através do Twitter. “O recrutamento de prisioneiros do Wagner atingiu o pico no outono de 2022, com os presidiários recebendo a comutação de suas sentenças após seis meses de serviço”.

Conforme a previsão dos britânicos, Moscou tende a enfrentar problemas com a situação. “O súbito afluxo de criminosos muitas vezes violentos com experiência de combate recente e muitas vezes traumática provavelmente apresentará um desafio significativo para a sociedade russa em tempo de guerra”, diz o boletim.

Escassez de mão de obra

O recrutamento de presos condenados foi uma estratégia encontrada pelo grupo mercenário para aumentar seu efetivo no campo de batalha. O empresário Evgeny Prigozhin, que comando o Wagner, teria ido pessoalmente aos presídios oferecer anistia em troca de serviço militar. Agora que muitos deles cumpriram o prazo de seis meses, vão de fato receber o perdão, segundo o governo britânico.

“Os certificados emitidos para os veteranos libertos do Wagner afirmam ter sido endossados pelo decreto do presidente Putin”, diz o boletim divulgado na terça, prevendo ainda que o problema de escassez de mão de obra do grupo aumentará. “Com o Wagner agora provavelmente proibido de recrutar mais prisioneiros, esse êxodo vai piorar seus problemas de pessoal”.

De fato, Prigozhin afirmou em fevereiro que “o recrutamento de prisioneiros pela empresa militar privada Wagner parou completamente”. Além do fim do serviço militar dos criminosos, o grupo vem perdendo homens em um ritmo muito maior que o esperado, o que gera mais uma vez um sério problema de escassez de mão de obra.

Integrantes da organização paramilitar russa Wagner Group (Foto: VK/reprodução)

Diante desse cenário, o Wagner passou a recorrer outra vez a métodos alternativos para preencher suas fileiras. Clubes esportivos se tornaram centros de recrutamento, e palestras realizadas em escolas de ensino médio tentam seduzir adolescentes russos, chamados por Prigozhin de “jovens guerreiros”, para que no futuro sirvam à instituição.

Nas últimas semanas, o Wagner também tem espalhado propagandas de recrutamento pela internet. Um dos veículos usados é o Pornhub, site de vídeos pornográficos mais acessado do mundo. De acordo com o empresário, trata-se de “uma boa ideia de nossos especialistas em marketing”, que convidam o cidadão russo a se juntar ao “exército privado mais legal do mundo”.

Para os presidiários, porém, é difícil enxergar onde está tamanha diversão. Em dezembro do ano passado, o Ministério da Defesa britânico, em outro balanço de inteligência, afirmou que combatentes recrutados nos presídios russos eram levados à Ucrânia para atuar na linha de frente e assim reduzir o risco à vida dos mercenários mais experientes.

Os ex-presidiários, geralmente menos gabaritados, recebem um tablet ou celular que mostra a eles em um mapa a rota que deve ser seguida na linha de frente. Já os comandantes, aqueles com melhor treinamento, ficam na retaguarda, onde o risco é consideravelmente menor, de acordo com o governo britânico.

O boletim desta semana estima que metade dos criminosos recrutados tenha morrido ou sido ferida na guerra. Embora a organização paramilitar não tenha informado quantos presos recrutou, o sistema penal russo divulgou um balanço em novembro de 2022 indicando que a população carcerária local teve uma redução de 20 mil pessoas entre agosto e novembro, justamente no início do processo de alistamento.

Tags: