É ‘altamente provável’ que Moscou tenha explodido barragem, aponta investigação

Evidências indicam alta probabilidade de que a destruição de Kakhovka tenha sido causada por explosivos pré-posicionados

É “altamente provável” que explosivos plantados pela Rússia tenham causado a destruição da barragem de Kakhovka, na região ucraniana de Kherson, no dia 6 de junho. É o que aponta uma investigação preliminar conduzida por representantes da fundação de direitos humanos Global Rights Compliance, que estiveram na Ucrânia a convite de promotores ucranianos. As informações são da agência Reuters.

“As evidências e análises das informações disponíveis, que incluem sensores sísmicos e discussões com os principais especialistas em demolição, indicam que há uma alta probabilidade de que a destruição tenha sido causada por explosivos pré-posicionados em pontos críticos dentro da estrutura da barragem”, diz relatório da fundação.

A visita à região de Kherson, que ocorreu entre os dias 10 e 11 de junho, contou também com membros do Tribunal Penal Internacional (TPI), que paralelamente investiga casos de abusos dos direitos humanos, inclusive crimes de guerra e crimes contra a humanidade, supostamente cometidos por tropas russas na Ucrânia.

Barragem de Kakhovka e Usina Hidrelétrica de Kakhovska (Foto: WikiCommons)

O advogado Yousuf Syed Khan, membro da Global Rights Compliance, disse que há uma chance de “80% ou mais” de que Moscou tenha de fato causado a explosão. A conclusão, diz ele, se baseia “não apenas em sensores sísmicos e em um dos principais provedores de inteligência de código aberto, mas também em padrões de ataque e outros ataques que documentamos”. Refere-se, no caso, aos ataques frequentes da forças russas à infraestrutura essencial ucraniana, como reservatórios de água e oleodutos.

Se confirmada a autoria, Khan disse que a destruição da barragem poderia constituir um crime de fome, vez que comprometeu “um objeto indispensável para a sobrevivência da população civil” de Kherson. Em um primeiro momento, ainda não é possível falar em crime contra a humanidade, embora essa alternativa esteja sendo considerada.

Na semana passada, a agência Reuters revelou as primeiras evidências de que uma explosão provocou o desastre, embora na ocasião não tenha atribuído a culpa a Moscou. Baseou tal alegação em relatórios dos serviços de inteligência da Ucrânia e dos EUA e em dados sísmicos coletados pela Noruega.

Em outubro de 2022, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky alertou que a Rússia planejava explodir a barragem e projetou um “desastre de grande escala”. Ele acusou Moscou de plantar explosivos em Kakhovka com o objetivo de posteriormente responsabilizar Kiev pelas mortes e pelo desastre ecológico proveniente da inundação.

Perigo nuclear

A barragem Kakhovka, que possui 30 metros de altura e 3,2 quilômetros de comprimento, faz parte de uma usina hidrelétrica e retém um grande reservatório no rio Dnipro. Durante os 15 meses de invasão russa na Ucrânia, essa represa tem sido uma fonte constante de tensão.

O colapso da barragem, no dia 6 de junho, levou a uma troca de acusações entre os governos russo e ucraniano, que se eximem de responsabilidade pelo ocorrido e culpam o outro lado. Já a inundação que resultou do rompimento gerou consequências ambientais e sociais. Casas e empresas foram inundadas à medida que a água fluía rio abaixo, levando à evacuação de milhares de habitantes de áreas afetadas.

Além disso, foi iniciado o monitoramento do nível da água nos sistemas de resfriamento da usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa. Na quinta-feira (15), Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), visitou as instalações e disse que a situação na usina é “grave”, embora esteja temporariamente sob controle.

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