Zelensky acusa a Rússia de planejar explodir barragem para inundar Kherson

Explosão em Kakhovka comprometeria inclusive o resfriamento dos reatores da usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa

Em discurso à nação transmitido na quinta-feira (20), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, alertou que a Rússia planeja explodir a barragem de uma usina hidrelétrica no sul do país. O resultado seria um “desastre de grande escala”, segundo ele. As informações são da rede BBC.

Zelensky acusa Moscou de plantar minas na represa da central hidroelétrica de Kakhovka, na região de Kherson. A explosão da barragem, controlada pelos russos, potencialmente inundaria 80 cidades, incluindo Kherson, estrategicamente ocupada desde o início do conflito.

O líder ucraniano disse a líderes da União Europeia (UE) durante reunião do Conselho Europeu nesta quinta que a aparente conspiração para atacar a barragem em Nova Kakhovka, no rio Dnipro, a cerca de 70 quilômetros da cidade de Kherson, tem como objetivo responsabilizar a Ucrânia pelas mortes em massa e o desastre ecológico que a detonação causaria.

Central hidroelétrica de Kakhovka já teria minas plantadas em sua estrutura (Foto: WikiCommons)

Outro fator apontado por Zelensky é que o ataque poderia deixar todo o sul do país invadido sem abastecimento d’água, incluindo a Crimeia, o que alimenta o temor de que a usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa, fique impossibilitada de resfriar seus reatores. “Se você não fornecer resfriamento, em uma hora e meia já terá derretido”, disse em agosto Petro Kotin, chefe da empresa de energia atômica da Ucrânia.

Autoridades russas introduzidas em Kherson, primeiro grande centro conquistado pelo exército de Vladimir Putin já nos primeiros dias de guerra, em fevereiro, rejeitaram as acusações de Kiev sobre um conluio para colocar a estrutura abaixo. 

Além disso, culpam as forças ucranianas por um ataque a ponte Antonivskyi, que passa sobre Dnieper. Após ela e outras pontes terem sido destruídas por foguetes ucranianos, o tráfego militar ficou comprometido, consequentemente deixando as tropas russas estagnadas do outro lado do rio.

Saída estratégica

Moscou começou um processo de retirada de suas autoridades instaladas em Kherson nesta semana. Além dos representantes do Kremlin, de 50 a 60 mil civis também sairiam, uma medida a qual Kiev condenou e classificou como “deportação forçada”.

A evacuação dos civis foi justificada pelo novo comandante militar da Rússia na chamada “operação militar especial”, general Sergei Surovikin, como uma medida protetiva diante de supostos planos da Ucrânia de usar de “métodos de guerra proibidos”.

Na visão do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), um think tank independente sediado nos EUA, a explosão na barragem, além da estratégia de atribuir a culpa a Kiev, seria um meio de desviar a atenção de uma retirada russa de Kherson à medida que as forças ucranianas avançam para uma batalha para retomar o território.

Zelensky observou que se os russos estivessem realmente pensando em destruir a barragem de Kakhovka, isso poderia significar que Moscou percebeu que não apenas perderia somente o controle de Kherson, mas de todo a região sul, incluindo a Crimeia, anexada ilegalmente por Putin em 2014.

Inundações maciças

A barragem da usina hidrelétrica de Kakhovka contém mais de 4,75 bilhões de galões líquidos de água, que, se liberados, “causariam inundações maciças e rápidas de assentamentos ao longo do rio Dnipro, incluindo a cidade de Kherson”, projetou o ISW. 

Fontes russas, no entanto, continuam acusando as forças ucranianas de lançar mísseis na barragem e divulgaram gráficos que mostram o caminho da inundação no caso de uma ruptura.

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