Kiev acusa Moscou de sabotar barragem para prejudicar contraofensiva ucraniana

Argumento é o de que a inundação permitiu a Moscou realocar suas tropas para outras áreas e assim compensar a escassez de soldados

A Ucrânia reforçou nos últimos dias a denúncia contra a Rússia pela destruição da barragem Kakhovka, na região ucraniana de Kherson, ocorrida no dia 6 de junho. Hanna Maliar, vice-ministra de Defesa de Kiev, usou a conta dela no Telegram para dizer que Moscou sabotou a represa para prejudicar a contraofensiva iniciada recentemente pelas tropas ucranianas. As informações são do site Insider.

Kakhovka, que possui 30 metros de altura e 3,2 quilômetros de comprimento, faz parte de uma usina hidrelétrica e retém um grande reservatório no rio Dnipro. Durante os 15 meses de invasão russa na Ucrânia, essa represa tem sido uma fonte constante de tensão.

O colapso da barragem levou a uma troca de acusações entre os governos russo e ucraniano, que se eximem de responsabilidade pelo ocorrido e culpam o outro lado.

Central hidroelétrica de Kakhovka já teria minas plantadas em sua estrutura (Foto: WikiCommons)

A inundação resultante do rompimento gerou consequências ambientais e sociais. Casas, ruas e empresas foram inundadas à medida que a água fluía rio abaixo, levando à evacuação de milhares de habitantes de áreas afetadas. Além disso, foi iniciado o monitoramento do nível da água nos sistemas de resfriamento da usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa.

Maliar afirmou que, nos últimos dias, as tropas russas começaram a se afastar de Kherson, o que segundo ela reforça a tese de que Moscou sabotou a barragem para comprometer a já esperada a ação das forças armadas da Ucrânia. A instalação estava sob controle russo desde as primeiras semanas de guerra, que teve início no dia 24 de fevereiro de 2022.

Como a área afetada pela inundação ficou inutilizada, as forças russas que ali estavam puderam ser redistribuídas para outras posições, sobretudo nas regiões de Zaporizhzhya e Bakhmut. Assim, a Rússia faria melhor uso de suas limitadas reservas de combatentes e equipamentos.

Por ora, entretanto, mesmo os governos estrangeiros não sabem a quem culpar. Na sexta-feira (9), a agência Reuters afirmou que as evidências são cada vez maiores de que uma explosão provocou o desastre, embora não esteja claro quem foi responsável. Tal alegação baseia-se em relatórios dos serviços de inteligência da Ucrânia e dos EUA e de dados sísmicos coletados pela Noruega.

Kiev alegou inclusive que interceptou uma comunicação das forças armadas russas na qual dois homens comentam a ação e dizem que o efeito foi mais devastador que o planejado. “Eles (os ucranianos) não atacaram. Esse foi o nosso grupo de sabotagem”, diz um dos um dos indivíduos, que seria um soldado russo. “Eles queriam, tipo, assustar (as pessoas) com aquela represa. Não saiu conforme o planejado.”

Em outubro do ano passado, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já havia alertado que a Rússia planejava explodir a barragem e projetou um “desastre de grande escala”. Ele acusou Moscou de plantar minas em Kakhovka com o objetivo de posteriormente responsabilizar Kiev pelas mortes e pelo desastre ecológico proveniente da inundação.

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