A Rússia concordou em estender a Iniciativa de Grãos do Mar Negro com a Ucrânia após negociações com a ONU (Organização das Nações Unidas) na segunda-feira (13), mas apenas por mais 60 dias. Kiev ficou insatisfeita e disse que a imposição de Moscou está em desacordo com os documentos assinados pelos fiadores do pacto – que também teve esforços diplomáticos da Turquia –, mas não barrou a proposta. As informações são da agência Al Jazeera.
Em comunicado, a ONU, que recebeu uma equipe do Ministério das Relações Exteriores russo em Genebra, disse que “observa” a proposta de ampliação. Também reafirmou seu apoio ao acordo, fechado em julho para reduzir a insegurança alimentar no mundo desencadeada pela guerra, o qual define como “parte da resposta global à crise do custo de vida mais grave em uma geração”. Mais de 24,1 milhões de toneladas de alimentos e fertilizantes foram exportados nesse período.
“O acordo de grãos envolve pelo menos 120 dias de extensão, portanto a posição da Rússia de estender o acordo apenas por 60 dias contradiz o documento assinado pela Turquia e pela ONU”, disse o ministro da Infraestrutura ucraniano Kubrakov. E acrescentou: “Estamos aguardando a posição oficial da ONU e da Turquia como garantes da iniciativa”.
O contrato inicial de 120 dias foi prorrogado em novembro e deveria expirar no sábado (18). Uma nova extensão de quatro meses estava na mesa de negociações. O Kremlin hesitou em concordar sobre uma nova prorrogação, alegando que o acordo duplo sobre as exportações russas “não estava sendo respeitado”.
“Moscou quer ver ações, não palavras na defesa desta segunda parte do pacote”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergey Vershinin, após concluir as negociações com altos funcionários das Nações Unidas na sede da ONU em Genebra, conforme repercutiu o jornal independente The Moscow Times.
Enquanto a Iniciativa de Grãos do Mar Negro diz respeito à exportação de grãos ucranianos, um segundo acordo, entre Moscou e a ONU, visa a facilitar a exportação de alimentos e fertilizantes russos, que estão isentos das sanções ocidentais impostas a Moscou. O governo russo está frustrado porque o acordo paralelo resultou apenas na saída de um pouco do seu fertilizante e nenhuma dos seus grãos.
“A conversa abrangente e franca confirmou mais uma vez que, embora a exportação comercial de produtos ucranianos seja realizada em ritmo constante, trazendo lucros consideráveis para Kiev, ainda existem restrições aos exportadores agrícolas russos”, disse a delegação russa em um comunicado.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse em coletiva de imprensa após as negociações: “Estamos fazendo de tudo para preservar a integridade e garantir a continuidade do acordo”.
Quase metade das exportações embarcadas sob o acordo são milho e mais de um quarto é trigo, segundo dados da ONU. Cerca de 45% das exportações foram para países desenvolvidos. O maior destinatário foi a China, seguida de Espanha, Turquia, Itália e Holanda.
A Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de 30% de todas as exportações de trigo e cevada do mundo, um quinto do milho e mais da metade do óleo de girassol.