Quando se fala em um possível acordo de paz para encerrar a guerra da Ucrânia, a Rússia avisa que não abriria mão das conquistas territoriais obtidas desde 2014, quando anexou a Crimeia. Agora, porém, o jogo parece ter virado. Na invasão em Kursk, as forças ucranianas assumiram o controle de cerca de 1,3 mil quilômetros quadrados da região russa, e o presidente Volodymyr Zelensky admitiu na terça-feira (27) que usará esse trunfo em uma eventual negociação.
Uma primeira Cúpula da Paz foi realizada em junho na Suíça, sem representantes de Moscou, e não rendeu frutos. Agora, Zelensky diz que pretende promover uma segunda edição em um país do Sul Global, sugerindo a Índia como sede. E a invasão no território russo faz parte da estratégia de negociação se o encontro de fato ocorrer.
“A operação Kursk está conectada à segunda Cúpula da Paz? Sim, está. Porque a operação Kursk é um dos pontos do plano de vitória da Ucrânia”, disse o presidente durante coletiva realizada na terça, conforme relato do jornal Kyiv Independent.

A estratégia, por ora, não aproxima a guerra de um final, com o governo russo refutando a negociação justamente por ter seu território invadido. “O tópico das negociações no momento praticamente perdeu sua relevância”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov, também na terça, segundo a rede BBC.
Kiev, no entanto, acredita que o cenário poderá mudar, com a Rússia pressionada ao menos a sentar-se à mesa. Pensando nisso, a Ucrânia diz que um documento vem sendo preparado desde o encontro na Suíça com as exigências ucranianas. Elas respeitam três diretrizes: segurança energética e nuclear, segurança alimentar e a libertação de todos os ucranianos detidos e deportados.
Zelensky sugeriu até uma data para abrir eventuais negociações. “Todos os três pontos serão abordados, e o documento completo será desenvolvido”, disse ele. “Acredito que conseguiremos finalizá-lo a tempo para novembro. Esta é a nossa tarefa: desenvolver o documento como um passo ou estágio preparatório para a segunda Cúpula da Paz.”
O plano, inclusive, será apresentado ao presidente dos EUA, Joe Biden, e a quem o suceder após as eleições de novembro, de acordo com a agência Reuters. “O ponto principal deste plano é forçar a Rússia a acabar com a guerra”, afirmou o líder ucraniano.
Uma versão inicial do plano pode ser apresentada antes do prazo anunciado, em setembro, quando Zelensky pretende visitar Nova York para a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
Além do território conquistado, outro trunfo ucraniano para negociações com Moscou são os prisioneiros de guerra. Durante a invasão em Kursk, as tropas de Kiev dizem ter capturado 594 russos que serão usados em futuras trocas com o inimigo, conforme relatou o comandante-chefe Oleksandr Syrskyi.