Uma interrupção prolongada dos combates na Ucrânia daria à Rússia a oportunidade de recompor suas forças e aumentar sua presença militar junto às fronteiras da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), alertou o serviço de segurança do Estado da Letônia. O aviso surge em meio à iniciativa do presidente dos Estados Unidos Donald Trump de negociar um acordo de paz com o Kremlin, como informa o site Politico.
Segundo o relatório recém-desclassificado do Escritório de Proteção à Constituição da Letônia, as forças russas permanecem sobrecarregadas pela invasão em larga escala da Ucrânia, o que torna improvável um confronto direto entre Moscou e a Otan em 2025. “No entanto, se a guerra for ‘congelada’ e a Rússia deixar de sofrer perdas significativas nos combates, Moscou será capaz de ampliar sua presença militar na fronteira nordeste da Otan, incluindo os países bálticos, nos próximos cinco anos”, adverte o relatório.

A iniciativa de Trump de abrir negociações com Vladimir Putin para encerrar a guerra surpreendeu tanto Kiev quanto aliados europeus da Otan. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reagiu pedindo que os EUA reconheçam que “Putin não quer acabar com a guerra”. A postura do republicano tem gerado preocupações entre países do Leste Europeu, que veem o conflito como parte de uma estratégia mais ampla de Moscou para expandir sua influência.
O relatório letão também analisa o impacto das sanções e da fuga de capitais sobre a economia russa. Embora reconheça que as medidas ocidentais não levarão ao colapso do país, o documento afirma que elas “quase certamente enfraquecerão a Rússia tanto interna quanto internacionalmente no longo prazo”. A avaliação sugere que, quanto mais tempo durar a guerra, menor será a capacidade do Kremlin de sustentar sua influência geopolítica.
Mesmo diante desse cenário, os serviços de inteligência letões alertam para o fortalecimento da capacidade russa de realizar operações de sabotagem na Europa. Nos últimos meses, países bálticos denunciaram uma série de ataques de baixa tecnologia contra infraestruturas críticas e tentativas de gerar instabilidade social. “É muito provável que os serviços russos estejam testando a reação europeia e sua capacidade de impedir tais incidentes”, aponta o documento.
O relatório enfatiza que essas táticas híbridas são uma parte estruturante da doutrina militar russa e poderiam ser intensificadas em caso de um conflito direto com o Ocidente. Segundo a agência letã, o Kremlin está expandindo suas “capacidades de sabotagem em território da Otan” para que estejam plenamente operacionais em caso de uma guerra contra o bloco.
O alerta da Letônia reforça preocupações levantadas recentemente pelo serviço de inteligência da Dinamarca. Na última semana, autoridades dinamarquesas afirmaram que a Rússia pode estar se preparando para uma “guerra de grande escala” na Europa dentro de cinco anos. “A Rússia provavelmente estará mais disposta a usar força militar contra um ou mais países europeus da Otan se perceber que a aliança está militarmente enfraquecida ou politicamente dividida”, afirmou a inteligência dinamarquesa.