As eleições presidenciais em Belarus têm cartas marcadas para assegurar uma vitória ao presidente Alexander Lukashenko, que assim deve garantir um sétimo mandato para ampliar seu governo além dos atuais 30 anos.
De acordo com a agência Associated Press (AP), a comissão eleitoral do país anunciou na terça-feira (5) que outros sete candidatos foram autorizados a coletar as cem mil assinaturas necessárias para concorrer. Todos, porém, são aliados do presidente, um indício de que foram escolhidos como forma de dar ares de legitimidade a uma eleição fraudulenta. Por outro lado, duas candidaturas de oposição lançadas nos últimos dias foram impugnadas.
O cenário atual tende a repetir o desfecho do pleito anterior, em 2020, que foi vencido por Lukashenko apesar das acusações da oposição e do Ocidente de que houve fraude. A partir de então, ele intensificou a repressão no país e praticamente eliminou a dissidência, forçando opositores a deixarem o país e colocando na cadeia os que optaram por permanecer.
“Há candidatos, mas nenhuma competição nesta eleição”, disse Valery Karbalevich, um analista político independente. “Lukashenko teme uma repetição dos protestos de 2020, seu trauma ainda está fresco e, portanto, ele realizará a votação em um formato pelo qual o resultado esteja predeterminado.”
A organização de direitos humanos Viasna diz que há atualmente 1.301 prisioneiros políticos no país. Nos últimos meses, porém, o presidente surpreendeu ao libertar 115 presos políticos, alegando que eles pediram clemência e se arrependeram.
Na visão de analistas, no entanto, a medida faz parte de uma tentativa de ganhar legitimidade e reconhecimento ocidental para o resultado da futura eleição. Na eleição, por sua vez, não há qualquer abertura, e autoridades em Minsk têm consistentemente negado acesso a observadores eleitorais independentes.
Lukashenko, que chegou ao poder em 1994, confirmou em outubro sua intenção de concorrer novamente, falando durante uma entrevista à televisão estatal russa. Em janeiro, ele havia aprovado uma lei que lhe concede imunidade, proteção vitalícia e propriedade fornecida pelo Estado após deixar o cargo de presidente.
As condições nas quais a eleição se baseia foram contestadas pela líder da oposição Sviatlana Tsikhanouskaya. “Belarus merece uma democracia verdadeira, não uma imitação encenada de uma eleição projetada para manter o ditador no poder sem candidatos alternativos ou observadores independentes”, disse ela através da rede social X, antigo Twitter. “Essa farsa é mais uma tentativa de silenciar a voz do povo, mas os belarussos não vão parar de lutar pela liberdade.”
#Belarus deserves true democracy, not a staged imitation of an election designed to keep the dictator in power without alternative candidates or independent observers. This sham is yet another attempt to silence the people’s voice—but Belarusians won’t stop fighting for freedom. pic.twitter.com/YlZ4Zqalso
— Sviatlana Tsikhanouskaya (@Tsihanouskaya) November 5, 2024
Por que isso importa?
Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.
O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.
Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação.
O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia de Covid-19, que chegou a chamar de “psicose”.
A violenta repressão imposta por Lukashenko levou muitos oposicionistas a deixarem o país. Aqueles que não fugiram são perseguidos pelas autoridades e invariavelmente presos. É o caso de Sergei Tikhanovsky, que cumpre uma pena de quase 20 anos de prisão sob acusações consideradas politicamente motivadas. Ele é marido de Sviatlana Tsikhanouskaia, candidata derrotada na eleição presidencial e hoje exilada.Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.