Medvedev sugere a anexação por Moscou de um quinto do território da Geórgia

Ex-presidente diz que ideia de se juntar à Rússia 'ainda é popular' na Abecásia e na Ossétia do Sul, palcos de uma guerra em 2008

Depois da Ucrânia, que desde o início da guerra viu vastas fatias de seu território passarem ao controle da Rússia, a Geórgia pode ter destino semelhante. Dmitry Medvedev, ex-presidente russo e atualmente vice-presidente do Conselho de Segurança do país, sugeriu a anexação por Moscou de aproximadamente um quinto do território georgiano, referindo-se a duas regiões que há 15 anos travam disputas separatistas que chegaram a gerar uma guerra. As informações são da agência Reuters.

“A ideia de aderir à Rússia ainda é popular na Abecásia e na Ossétia do Sul”, escreveu Medvedev em artigo publicado pelo jornal Argumenty I Fakty, de propriedade do Kremlin. “Poderia ser implementado se houvesse boas razões para isso”.

Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia (Foto: Wikimedia Commons)

A Abecásia e a Ossétia do Sul protagonizaram uma história semelhante à de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, que desde 2014 estão sob controle russo e cuja disputa separatista ajuda a explicar a decisão de Moscou de atacar Kiev em 24 de fevereiro de 2022.

Em 2008, as duas regiões georgianas foram invadidas por tropas russas em apoio a grupos separatistas locais, dando início a um rápido conflito com as forças armadas georgianas que durou cinco dias. Isso levou as relações entre Moscou e Tbilisi ao ponto mais baixo desde o fim da União Soviética, embora desde então os dois governos tenham iniciado uma reaproximação.

A Abecásia, que demanda independência do resto da Geórgia, tem seu pedido apoiado por Moscou, enquanto a Ossétia do Sul pleiteia união com a porção norte do território, que há 30 anos faz parte da Federação Russa. Até hoje as forças armadas russas estão estacionadas nos territórios, que atualmente são considerados independentes pelo Kremlin.

Medvedev resolveu falar sobre a anexação ante à possibilidade de a Geórgia se filiar à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Hoje, o país é considerado um parceiro estratégico da aliança militar, que desde a rápida guerra de 15 anos atrás considera a possibilidade de uma filiação formal.

Entretanto, após o debate iniciado em 2008 a Otan não estabeleceu um prazo para receber Tbilisi. Tal situação irrita o governo georgiano e levou Shalva Papuashvili, presidente do parlamento local, a atribuir à aliança parte da culpa pela perda territorial. “Se a Geórgia já fosse membro da Otan em 2008, não teria havido guerra nem ocupação russa”, disse ele em julho, segundo a rede Deutsche Welle (DW).

De acordo com Medvedev, Moscou não hesitaria em agir militarmente caso a possibilidade de a Geórgia se filiar à Otan fosse iminente. “Não vamos esperar que nossas preocupações se tornem mais próximas da realidade”, disse ele no artigo.

Tags: