Membros da Otan já admitem o envio de tropas à Ucrânia para evitar uma vitória da Rússia

Presidentes da Eslováquia e da França disseram que a questão vem sendo debatida, mas não existe um consenso a respeito

Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, afirmou na segunda-feira (26) que alguns países-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já consideram a possibilidade de enviar tropas à Ucrânia. A afirmação, inicialmente recebida com desconfiança, dado o histórico do chefe de Estado, foi posteriormente ratificada pelo líder francês Emmanuel Macron.

Fico se manifestou antes de um encontro de líderes ocidentais em Paris. “Eu me limitarei a dizer que estas teses implicam que vários Estados-Membros da Otan e da UE (União Europeia) estão considerando o envio das suas tropas à Ucrânia numa base bilateral”, disse ele, de acordo com a agência Reuters.

Em um primeiro momento, nenhum outro chefe de Estado se manifestou, o que colocou em dúvida a alegação. Além disso, Fico é notório opositor do apoio que a Otan, da qual o país dele é membro, tem oferecido a Kiev. Por ser visto como um aliado de Moscou dentro da aliança, a fala foi recebida com ceticismo.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e o presidente da França, Emmanuel Macron (Foto: Otan/Flickr)

Logo na sequência, porém, a projeção do líder estoniano mostrou-se precisa. Segundo a agência Associated Press (AP), o presidente da França afirmou que o envio de soldados para apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia está em análise.

“Não há consenso hoje sobre enviar tropas oficiais e endossadas para o terreno. Mas, em termos de dinâmica, nada pode ser descartado”, disse ele durante conferência de imprensa. “Faremos tudo o que for necessário para que a Rússia não possa vencer a guerra.”

O líder francês alegou ainda que prefere manter uma “ambiguidade estratégica” e se recusou a comentar quais países têm considerado o envio de tropas. Os EUA marcaram presença na reunião, representados por seu principal diplomata na Europa, James O’Brien.

Otan dividida

O presidente da Polônia, Andrzej Duda, confirmou que o envio de tropas ocidentais à Ucrânia foi debatido no encontro, mas “não houve acordo sobre o assunto”. Segundo ele, o objetivo central dos aliados ainda é enviar armas e sobretudo munição, com uma nova entrega esperada para “um futuro próximo”.

O país dele, entretanto, “não planeja enviar suas tropas à Ucrânia”, segundo o primeiro-ministro Donald Tusk. Mesma posição da República Tcheca, manifestada pelo premiê Petr Fiala, segundo quem seus soldados “certamente” mão irão à guerra.

A presença de tropas no campo de batalhas é a última barreira a ser ultrapassada pelo Ocidente em seu apoio a Kiev. Tal hipóteses vinha sendo descartada devido ao risco de tornar os países-membros da Otan parte ativa no conflito.

Até agora, a aliança tem fornecido somente armas, munição e treinamento às tropas ucranianas, o que já basta para enfurecer Moscou. Em novembro de 2022, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev, hoje vice-presidente do Conselho de Segurança, chegou a dizer que a Otan seria um “alvo legítimo” de seu país caso fornecesse mísseis Patriot à Ucrânia.

Se as ameaças vindas do Kremlin não freiam Macron, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, prefere manter a cautela. “Os aliados da Otan estão fornecendo um apoio sem precedentes à Ucrânia. Temos feito isso desde 2014 e intensificamos após a invasão em grande escala. Mas não há planos para tropas de combate da Otan no terreno na Ucrânia”, disse o chefe da aliança em entrevista à AP.

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