Militar fala demais em vídeo e revela baixas elevadas de tropa de elite da Rússia na guerra

Oficial ignora sigilo estabelecido por Moscou e diz que 8,5 mil combatentes das Forças Aerotransportadas foram feridos na Ucrânia

As Forças Aerotransportadas (VDV, na sigla em russo) da Rússia registraram ao menos 8,5 mil soldados feridos desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. A revelação foi feita de forma involuntária pelo coronel-general Mikhail Teplinskiy, comandante do grupamento, que faz parte da elite das forças armadas do país. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Teplinskiy gravou um vídeo para o Zvezda, o canal de TV do Ministério da Defesa, para relembrar o dia das Forças Aerotransportadas, celebrado na quarta-feira (2). Na gravação, ele elogiou a bravura de seus homens, dizendo que mesmo combatentes feridos se recusaram a deixar o campo de batalhas.

“Mais de cinco mil paraquedistas feridos retornaram à linha de frente após o tratamento, e outros mais de três mil e quinhentos de nossos feridos se recusaram a deixar a linha de frente”, disse ele.

O problema é que Moscou mantém uma severa política de não revelar suas baixas no conflito, o que levou o governo russo a apagar o vídeo assim que o deslize do oficial viralizou. Considerando a falta de dados oficiais, se confirmada a informação, seria o maior número de baixas em uma única unidade russa desde o início da guerra.

Membros das Forças Aerotransportadas da Rússia celebram o 2 de agosto em 2020 (Foto: WikiCommons)
47 mil russos mortos

Até agora, as únicas fontes de informação sobre russos mortos e feridos no conflito têm sido serviços de inteligência estrangeiros, organizações não governamentais e veículos de imprensa independentes, que ocasionalmente divulgam estimativas baseadas em investigações próprias.

Em julho, os sites Mediazona e Meduza publicaram um balanço inédito segundo o qual cerca de 47 mil soldados russos morreram na guerra. Para tanto, eles usaram um conceito chamado “mortalidade excessiva”, que se popularizou durante a pandemia de Covid-19.

Os pesquisadores acessaram dados oficiais disponíveis para consultas públicas, como atestados de óbito e ações judiciais de inventário. A partir dessas informações, calcularam quantos homens russos de até 50 anos, limite para soldados rasos e oficiais de baixa patente, morreram entre o início da guerra e 27 de maio de 2023. Então, compararam com a média do mesmo período em anos anteriores, e o excedente indicou quantos morreram na guerra.

Partindo desse critério, o estudo cita uma segunda estatística, esta mais abrangente e ainda mais segura. “Para sermos absolutamente precisos, podemos afirmar com 95% de probabilidade que o verdadeiro número de baixas fica entre 40 mil e 55 mil”, diz o estudo, que não leva em conta as perdas nas regiões de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano.

Moscou divulgou pela última vez um balanço de soldados mortos em setembro de 2022, quando o ministro da Defesa Sergei Shouygu disse que 5.937 russos haviam morrido até então. Aqueles dados, porém, parecem baixos demais na comparação com o balanço feito agora por Mediazona e Meduza.

Dali em diante, a Rússia não apenas parou de divulgar números de mortos como tem levado à Justiça veículos, entidades e indivíduos que citem tal estatística. Quem o faz é acusado de “desacreditar as forças armadas“, crime previsto em uma lei criada especificamente durante a guerra e que prevê penas de multa e prisão para os infratores.

Os dados do estudo permitem uma comparação espantosa. Durante os 15 meses abordados, morreram três vezes mais soldados russos na Ucrânia que tropas soviéticas em dez anos de guerra no Afeganistão. E nove vezes mais que nos dois anos da primeira Guerra Russo-Chechena, entre 1994 e 1996.

“Os números apresentados são notáveis ​​não apenas porque significam as dezenas de milhares de homens que Vladimir Putin enviou para morrer em uma guerra de agressão, mas também porque as autoridades trabalharam incansavelmente para esconder os custos reais e crescentes da invasão para os próprios russos”, afirmou o Meduza.

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