Na Rússia, opositor à guerra é impedido de disputar eleições contra Putin

Boris Nadezhdin, único rival de fato do presidente, teve a candidatura impugnada e pretende recorrer da decisão na Suprema Corte

O presidente Vladimir Putin está prestes a garantir mais um mandato de seis anos nas próxima corrida eleitoral russa, que ocorrerá de 15 a 17 de março. É uma pista livre, já que todos os principais políticos da oposição tiveram suas candidaturas impugnadas.

Apenas três concorrentes, todos de partidos de oposição chapa branca apoiados pelo Kremlin, estão registrados para concorrer. O mais recente a ficar de fora é Boris Nadezhdin, um candidato antiguerra e único rival de fato do atual mandatário. O rival foi barrado de concorrer à presidência e agora planeja apelar da decisão na Suprema Corte, segundo informações da rede CNN.

Ele considera a participação nas eleições presidenciais de 2024 como “a decisão política mais importante de sua vida” e está determinado a contestar a negativa da Comissão Eleitoral Central (CEC).

No entanto, em uma audiência em Moscou nesta quinta-feira (8), autoridades eleitorais afirmaram ter encontrado falhas em mais de nove mil das 105 mil assinaturas que Nadezhdin apresentou em apoio à sua candidatura, número que fica acima da taxa de erro permitida, que é de 5%.

Boris Nadezhdin apoiado pelo ativista e preso político Alexei Navalny (Foto: Facebook/Reprodução)

Suas chances de reverter a decisão em um recurso são tidas como inexistentes, particularmente com o Kremlin exercendo controle total sobre as eleições no país.

Antes da decisão, a equipe de Nadezhdin afirmou que os supostos “erros” encontrados pela CEC incluíam “pequenos erros de digitação” que ocorreram quando as assinaturas foram inseridas nos computadores.

Aos 60 anos de idade, os apelos do postulante a chefe do Kremlin para interromper a ofensiva militar da Rússia contra a Ucrânia levaram multidões de russos às ruas do país no mês passado para apoiar sua tentativa de validar a candidatura.

“Ninguém duvida que centenas de milhares de pessoas realmente assinaram para mim. Não há dúvida sobre isso”, afirmou Nadezhdin após a decisão. “Vamos apelar da regulamentação e do próprio procedimento de coleta.”

A medida indica que ele se juntará a uma série de ativistas antiguerra e será isolado da cena política russa, enquanto Moscou se prepara para uma eleição presidencial considerada uma formalidade pelos observadores internacionais.

Na audiência em Moscou, Nadezhdin afirmou que receberia o apoio de “dezenas de milhões de pessoas” e se colocou como segundo colocado, atrás de Putin.

O político contava com o respaldo de figuras da oposição russa, como Alexei Navalny e Mikhail Khodorkovsky, que viram nele uma oportunidade de protesto legal contra o governo. Desde a invasão russa na Ucrânia em 2022, as leis contra dissidência na Rússia tornaram-se ainda mais rigorosas, levando à prisão de muitos opositores.

Mera formalidade

Aos 71 anos, Putin, que está no comando do país desde o final dos anos 1990, acredita que é crucial liderar a nação durante a travessia de um dos momentos mais tumultuados das últimas décadas. E ele, que desfruta de uma extraordinária popularidade, com taxa de aprovação de 80% entre os cidadãos russos, espera que o pleito seja uma mera formalidade.

A trajetória do ex-agente da KGB no poder teve início em dezembro de 1999, quando assumiu a presidência interina após a renúncia do então primeiro-ministro Boris Yeltsin. Sua abordagem firme durante o conflito na Chechênia chamou a atenção da opinião pública, que enxergou naquela a figura de um líder disposto a recolocar sob as ordens de Moscou os rebeldes chechenos.

Desde então, Putin consolidou seu poder e aumentou a influência da Rússia globalmente, mas também enfrentou críticas devido à violência, autoritarismo, perseguição de opositores políticos, censura à imprensa e repressão de ativistas contrários ao regime. Isso inclui a guerra no Cáucaso, ações de suas forças especiais com vítimas civis, a queda suspeita de um avião comercial e a invasão da Ucrânia em 2022.

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