De olho na Otan, Suécia faz novo aceno à Turquia e leva membro do PKK à Justiça

Promotoria sueca apresentou denúncia contra um homem acusado de financiar o PKK, milícia curda classificada como terrorista por Ancara

A Promotoria de Justiça da Suécia apresentou formalmente denúncia contra um cidadão turco acusado de ligação com o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), grupo considerado extremista por Turquia, EUA e União Europeia (UE). O acusado teria participado de ações armadas contra o governo turco na década de 1980, segundo a agência Reuters.

A iniciativa dos promotores suecos surge em um momento delicado para Estocolmo, que pleiteia o ingresso na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e para isso depende da aprovação do governo turco.

Desde maio de 2022, o presidente turco Recep Erdogan vem se mostrando um obstáculo nas pretensões suecas. Ele cobra do país escandinavo uma postura mais clara sobre o que Ancara considera “terrorismo”, referindo-se à tolerância sueca com indivíduos acusados de serem membros de milícias curdas.

O Palácio de Bonde, em Estocolmo, hoje sede do Supremo Tribunal da Suécia (Foto: WikiCommons)

A denúncia apresentada na sexta-feira (9) surge como um indício de concordância com as demandas da Turquia. Trata-se do primeiro caso aberto pela Justiça sueca contra um indivíduo acusado de financiar o PKK na Suécia. O homem, cuja identidade não foi revelada, também é acusado de cometer crimes com arma de fogo e de extorsão.

“A investigação deu suporte às suspeitas de que o homem estava agindo em nome do Partido dos Trabalhadores Curdos”, disse a promotoria sueca em comunicado.

O homem integrava um grupo que arrecadava dinheiro para o PKK na Europa. Ele teria mantido contato com outro integrante, preso pela polícia da Alemanha sob a mesma acusação.

Ilhan Aydin, advogado do acusado, disse que o cliente dele nega ter financiado o PKK e ter cometido o crime de extorsão. E diz que vê a questão política influenciar o caso. “Espero que meu cliente não se torne uma peça no jogo ou nas negociações da Otan”, disse o defensor.

A novela sueca na Otan

Para ingressar na Otan, um país precisa de aprovação unânime dos membros. No caso da Suécia, faltam os avais de Turquia e Hungria.

Na negociação para contar com o “sim” de Ancara”, Estocolmo cedeu parcialmente às exigência ao anunciar, em dezembro de 2022, a extradição para a Turquia de Mahmut Tat, igualmente acusado de ligação com o PKK. Porém, outras demandas turcas não foram atendidas pela Justiça sueca, e o governo já afirmou mais de uma vez que não vai interferi em decisões do Judiciário.

Finlândia, que apresentou a candidatura ao mesmo tempo que a Suécia, conseguiu romper a resistência inicial e teve sua bandeira hasteada na sede da Otan em abril, oficializando o aguardado ingresso na aliança militar transatlântica.

Quem também impede atualmente a adesão sueca é a Hungria. Porém, Budapeste já deu indícios de que não colocará empecilhos caso a Turquia dê sua aprovação. O “sim” húngaro deve vir assim que Ancara fizer o mesmo.

A expectativa da comunidade internacional é de que a Turquia acelere o processo de aprovação agora que Erdogan foi reeleito.

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