Navio suspeito de transportar grãos ucranianos roubados é apreendido no Líbano

Segundo Kiev, embarcação foi carregada na Crimeia e iria para a Síria, um dos principais destinos do suposto esquema de pilhagem

Em meio às alegações de que a Rússia tem roubado a produção de grãos da Ucrânia para revender no exterior, o Líbano apreendeu um cargueiro cheio de cevada e farinha de trigo no porto de Trípoli, segunda maior cidade libanesa, no sábado (30). As informações são da rede Bloomberg.

A apreensão partiu de uma ordem do promotor libanês Ghassan Oueidat, que determinou que o navio fique retido pelas autoridades até o final da investigação, trabalho solicitado por ele à polícia local.

Segundo a embaixada ucraniana no país, a embarcação foi carregada em Feodosia, na península da Crimeia, região anexada por Moscou em 2014. As mercadorias seriam originárias de Zaporizhzhia, Mykolaiv e Kherson, no sudeste da Ucrânia.

Laodicea no porto de Sebastopol, na península ucraniana da Crimeia (Foto: Marine Traffic/Divulgação)

Kiev alega que o navio Laodicea, de bandeira síria e alvo de sanções dos Estados Unidos, carregava 5 mil toneladas de farinha e outras 5 mil toneladas de cevada, alimento que seria fruto de um esquema de pilhagem coordenado pela Rússia no território invadido.

Segundo dados de rastreamento, o cargueiro atracou em Trípoli na última quarta-feira (27). O destino do Laodicea seria o porto de Tartus, na Síria, onde ele tinha previsão de chegada para o início desta semana.

Nos registros do banco de dados europeu Equasis, constam que a embarcação é de propriedade da Syria Mar Shipping Ltd., que não atendeu a um pedido de comentário. Tanto a empresa quanto o navio foram sancionados por Washington em 2015 por conta de ligações com o presidente sírio Bashar al-Assad.

Em nota, a Embaixada da Rússia no Líbano negou qualquer conhecimento sobre a presença de um navio de carga sírio atracado no porto de Trípoli com “grãos roubados da Ucrânia”.

Os principais destinos do alimento roubado e negociado por Moscou seriam a Síria e a Turquia

O esquema

O volume de alimentos transportados na Crimeia, região ucraniana anexada à força por Moscou em 2014, aumentou 50 vezes em relação ao esperado para esta época do ano.

Diante da situação, Kiev acusa Moscou de ter armado um grande esquema para faturar com a pilhagem. No último dia 6, houve um mal-estar após Ancara liberar uma embarcação russa suspeita de transportar grãos roubados. Após ser retido, o cargueiro de bandeira russa Zhibek Zholy, que estaria levando 7 mil toneladas, zarpou do porto de Karasu, algo definido pelas autoridades ucranianas como “inaceitável”. 

Na semana passada, a empresa de inteligência marítima Windward apontou um aumento de 160% nas chamadas “atividades escuras” de graneleiros no Mar Negro em relação ao mesmo período em 2021. Para esconder a localização, as embarcações de bandeira russa desligam o AIS (Sistema de Identificação Automática, da sigla em inglês).

Também há relatos de transferências de carga de navio para navio, um método do qual a Rússia estaria lançando mão para tentar “lavar” os grãos roubados de agricultores do país invadido.

Somente em junho, a Rússia tomou ou danificou pelo menos um milhão de toneladas de grãos e oleaginosas, segundo estimativas da Escola de Economia de Kiev. O prejuízo foi avaliado em cerca de US$ 600 milhões.

Por que isso importa?

Em meio a um cenário que gera preocupação com a iminência de uma crise alimentar global causada pela incapacidade de Kiev de exportar trigo por conta de seus portos bloqueados pelo exército russo, autoridades ucraniana falavam na metade de junho em um rombo de aproximadamente 500 mil toneladas, resultando em um prejuízo de US$ 100 milhões.

Washington alertou que o Kremlin está colocando dinheiro nos cofres com essa pilhagem e teria estabelecido um mercado de trigo roubado que negocia o alimento com países da África atingidos pela seca causada pelo fenômeno La Niña, segundo reportagem do jornal The New York Times. Algumas dessas nações já estariam enfrentando um quadro de fome.

Juntas, Rússia e Ucrânia concentram quase 30% da exportação global de trigo e 80% das exportações de girassol. Pelo menos 40% das exportações de trigo e milho produzidos em solo ucraniano vão para o Oriente Médio e a África, que já sofrem com a fome. A interrupção em ambos os países é sentida no sistema agroalimentar mundial.

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