Ucrânia protesta após Turquia liberar navio russo suspeito de transportar grãos roubados

Kiev definiu como "inaceitável" que a embarcação, suspeita de transportar 7 mil toneladas de carga, tenha sido autorizada a sair

Após ser retido por autoridades turcas no último fim de semana, o cargueiro de bandeira russa Zhibek Zholy, suspeito de transportar 7 mil toneladas de grãos, zarpou na quarta-feira (6) do porto de Karasu, no noroeste do país. Há indícios de que navios graneleiros russos têm transportado grandes cargas de alimento supostamente roubado da Ucrânia para posterior revenda no exterior. As informações são da agência Reuters.

Na quinta-feira (7), o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia classificou como “inaceitável” que a embarcação tenha sido autorizada a sair e anunciou que irá convocar o embaixador turco para buscar esclarecimentos.

“Lamentamos que o navio russo Zhibek Zholy, que estava cheio de grãos ucranianos roubados, tenha sido autorizado a deixar o porto de Karasu, apesar das provas criminais apresentadas às autoridades turcas”, tuitou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Oleg Nikolenko.

O navio Zhibek Zholy estava ancorado a cerca de um quilômetro do porto de Karasu, na Turquia, no Mar Negro (Foto: Marine Traffic/Divulgação)

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia desconversou sobre as alegações ucranianas, que definiu como “relatórios falsos”. Segundo justificativa do órgão governamental, o Zhibek Zholy, de 7.146 dwt (porte bruto máximo permissível de um navio), estava “passando por procedimentos padrão”.

Apesar da negativa russa, uma investigação conduzida pela rede britânica BBC aponta indícios dessa irregularidade, que foram obtidos através de fotos de satélite, dados de transporte marítimo e depoimentos pessoais.

O site Marine Traffic, que fornece informações em tempo real sobre a movimentação de embarcações e a localização atual em portos, mostrou o Zhibek Zholy se movendo a pelo menos 20 quilômetros de distância do porto de Karasu, no Mar Negro, antes de desaparecer de vista.

O rastreador de remessa indicou que o destino do navio era o porto de Kavkaz, localizado na península de Chushka, na Rússia. A data de chegada prevista é para esta sexta-feira (8).

Além da Turquia, Estado-Membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que tem bons laços tanto com Moscou quanto com Kiev – o que a faz criticar tanto a invasão quanto as sanções ocidentais –, a Síria, aliada russa, é outro destino identificado das cargas.

No dia 13 de junho, o gabinete da procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, enviou uma carta ao Ministério da Justiça turco solicitando que investigasse e fornecesse evidências a respeito de outros três navios que estariam envolvidos no esquema de transporte de grãos. As embarcações são de propriedade de uma subsidiária da empresa estatal russa United Shipbuilding Corporation, alvo de sanções ocidentais

As cargas seriam supostamente originárias de territórios ocupados por forças russas, como Kherson, uma cidade portuária no sul do país.

Por que isso importa?

Em meio a um cenário que gera preocupação com a iminência de uma crise alimentar global causada pela incapacidade de Kiev de exportar trigo por conta de seus portos bloqueados pelo exército russo, autoridades ucraniana falavam na metade de junho em um rombo de aproximadamente 500 mil toneladas, resultando em um prejuízo de US$ 100 milhões.

Washington alertou que o Kremlin está colocando dinheiro nos cofres com essa pilhagem e teria estabelecido um mercado de trigo roubado que negocia o alimento com países da África atingidos pela seca causada pelo fenômeno La Niña, segundo reportagem do jornal The New York Times. Algumas dessas nações já estariam enfrentando um quadro de fome.

Juntas, Rússia e Ucrânia concentram quase 30% da exportação global de trigo e 80% das exportações de girassol. Pelo menos 40% das exportações de trigo e milho produzidos em solo ucraniano vão para o Oriente Médio e a África, que já sofrem com a fome. A interrupção em ambos os países é sentida no sistema agroalimentar mundial.

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