Ocidente empurra a Rússia para seu primeiro calote da dívida externa em um século

País não deixava de cumprir com seus pagamentos desde 1918, época da Revolução Bolchevique

A guerra na Ucrânia proporcionou mais um momento negativamente memorável para o Kremlin. A Rússia deu um calote histórico na sua dívida externa, o primeiro desde a Revolução Bolchevique, ocorrida em 1918. De acordo com declaração dada pela Casa Branca nesta segunda-feira (27), o default seria consequência das sanções ocidentais, que excluíram o país do sistema financeiro global e tornaram seus ativos intocáveis. As informações são da rede CNN.

Segundo Washington, o não pagamento de aproximadamente US$ 100 milhões em juros sobre dois títulos, expirados no domingo (26), evidenciou o poder das penalidades sem precedentes impostas à Rússia desde que suas tropas invadiram o país vizinho em 24 de fevereiro.

“As notícias sobre a descoberta do calote da Rússia, pela primeira vez em mais de um século, situam o quão fortes são as reações que os EUA, juntamente com aliados e parceiros, tiveram, bem como quão dramático foi o impacto sobre a economia da Rússia”, disse um alto funcionário do governo nos bastidores da cúpula do G7 realizada domingo na Alemanha.

Com seu país excluído dos sistemas internacionais de pagamento, Putin encontra dificuldades para honrar dívidas (Foto: Kremlin.ru/Divulgação)

O Kremlin rechaça as afirmações. O país tem o dinheiro, já que Moscou continua a faturar com as exportações, especialmente com o aumento dos preços da energia. Mas não consegue acessar o dinheiro.

Dados da Agência Internacional de Energia indicam, inclusive, que as receitas de exportação de petróleo russas subiram para cerca de US$ 20 bilhões em maio. Acontece que a Rússia não consegue pagar seus credores estrangeiros justamente porque as sanções a isolaram financeiramente ao cortá-la dos sistemas internacionais de pagamento.

“Não é problema nosso”

Durante coletiva de imprensa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alegou que a Rússia fez os pagamentos vencidos em maio, porém, pelo fato de terem sido bloqueados pela Euroclear, empresa de serviços financeiros que regula transações de títulos, devido às sanções aplicadas ao país, “não é problema nosso”.

O presidente Vladimir Putin bem que tem se esforçado para cumprir os pagamentos de US$ 40 bilhões em títulos desde que deu as ordens para o início de sua “operação militar especial”, eufemismo usado pela narrativa oficial russa para descrever a guerra.

Após o Departamento do Tesouro dos EUA ter tapado uma brecha que permitia ao Kremlin honrar dívidas a detentores de títulos americanos por meio de bancos americanos, ele até propôs pagar os credores em rublos, que poderiam então ser convertidos em dólares. Não adiantou.

Na opinião de especialistas, o calote da dívida isola ainda mais Moscou da economia global, podendo potencialmente “queimar o filme” entre os investidores financeiros de tal maneira que seriam necessários anos para desfazer a má impressão, já que investidores temem que a Rússia continue a colocar seus interesses de política externa à frente de seus credores.

A Rússia não descumpria com o pagamento da sua dívida externa há mais de um século. Mais precisamente desde 1918, quando os bolcheviques derrubaram o czar Nicolau II e se recusaram a aceitar dívidas internacionais acumuladas durante a era czarista.

Segundo o jornal Washington Post, mais recentemente, a Rússia deu calote em sua dívida local em 1998, quando o país passou por uma crise financeira e o rublo entrou em colapso. À época, precisou de ajuda internacional para sair da crise.

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