Aliados da Ucrânia deixam armas de lado e projetam sanções severas contra a Rússia

EUA e UE não escondem sua posição pró-Kiev em um eventual conflito com Moscou. Mas não parecem dispostos a empreender uma ação militar

A possibilidade de uma invasão da Ucrânia pela Rússia é real, em meio à mobilização de tropas russas perto da fronteira e aos consequentes alertas do Ocidente quanto à iminência de um ataque. Entretanto, embora manifestem constantemente apoio a Kiev nessa disputa, Estados Unidos e União Europeia (UE) não fizeram menção pública de que agiriam militarmente em defesa do aliado. A resposta mais provável seria através de sanções financeiras. E opções para isso não faltam, segundo a agência Associated Press (AP).

O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken afirmou na última semana que Washington tem na manga “medidas econômicas de alto impacto que evitamos tomar no passado”. Já o presidente Joe Biden falou em um “conjunto de iniciativas mais abrangente e significativo para tornar isso muito, muito difícil para [o presidente russo Vladimir] Putin”.

A mais dura opção de sanção que os aliados têm contra a Rússia é a exclusão do país do SWIFT, um sistema de pagamentos baseado na Bélgica que movimenta dinheiro entre milhares de bancos em todo o mundo. É o que se convencionou chamar de “opção nuclear” no campo das sanções financeiras. E a medida já foi inclusive aprovada pelo Parlamento Europeu para o caso de invasão.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, em janeiro de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

Punição semelhante foi imposta ao Irã devido à manutenção do programa nuclear do país, o que contrariou as exigências ocidentais. Fora do SWIFT, Teerã perdeu quase metade de sua receita de exportação de petróleo e um terço de seu comércio exterior, segundo Maria Shagina, especialista em sanções e política energética afiliada ao think tank moscovita Carnegie Moscow Center.

De acordo com Shagina, o impacto seria igualmente devastador para a economia da Rússia, que tem mais de um terço de receitas federais vinculadas às exportações de petróleo e gás natural e depende do SWIFT para movimentar o dinheiro. Embora tenha trabalhado arduamente nos últimos anos para se desvincular desse sistema de pagamentos, Mocou ainda depende dele fortemente.

Segundo o diplomata John Herbst, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, o corte do SWIFT seria mesmo a última e mais severa opção, também porque impactaria não apenas na Rússia, mas nos próprios países sancionadores. Ele destaca, ainda, outras alternativas menos drásticas: sanções financeiras contra familiares e outras pessoas próximas a Putin e novas e mais duras sanções contra os bancos e o setor de energia da Rússia.

Atualmente, estão em vigor sanções mais moderadas, impostas a Moscou em função da anexação da Crimeia em 2014, das ações russas no leste da Ucrânia e das atividades cibernéticas maliciosas de equipes de hackers associados ao Kremlin.

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin.

Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam a Ucrânia pela Crimeia e por Belarus, com potencialmente cem mil soldados. A Ucrânia estima um contingente de 90 mil soldados de Moscou prontos para atacar, enquanto a inteligência norte-americana fala em 50 mil.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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